A fonte na praça dança sozinha a música que fizeram pra ela. Os canteiros em volta dão risadas. As pessoas passam na noite. Apenas passam. O prédio mais feliz é aquele que fica na sombra de todos os outros. O chão é todo de asfalto, belo. O ladrilho do passeio é quase bonito.
Essa é minha cidade, velha. A mais nova das cidades, primas. Cheia de botox na cara, obras cirúrgicas, caras. Uma mocinha do interior que se diz da capital.
Três milhões de tipos de gente ficam jogando dama nas calçadas, andando de skate nos degraus e ouvindo Heavy Metal, enquanto surdos ouvem as pregações do pastor. Os mágicos e as estátuas vivas se apresentam enquanto as fotos e os chips são vendidos.
Eu nasço todos os dias, livre. Venho junto com o sol no meio das serras. Serras de turista: só em um lado bonito. O outro é devastação...
Eu tenho uma praça, livre. A beleza é de poucos, digo! Os museus tecnológicos em prédios antigos. Palmeiras imperiais mostram que o Rei é quem manda.
Uma lagoa poluida, linda! Verdinha que dá dó! Cartão postal das curvas do arquiteto. Beleza de difícil acesso, rica. Pescadores e caminhantes, perto do parque de diversões.
Uma rua de prostíbulos, santa! Lendária e imunda, sempre. A poesia de sua decadência é a beleza de ser o que é.
Um lugar onde se pode ver os bichos. As plantas também estão por lá. Todo mundo só quer ver o elefante. O resto, se der tempo a gente vai.
Uma favela tão famosa e temida. Um grupo de gente de azul. Um morro que leva ao Paraíso. Atrás do cemitério tem uma vida que ficou pra trás.
Umas ruas tão cheias, entupidas. Barulhos e pessoas se irritam. Não sei se choveu ou se tem batida. Pode ser só sexta-feira no horário crítico...
Apaixonantes corredores de lojas e bancas antigas. Artesanato, comida e animais. Uma loucura que a gente gosta e lembra da maça lá no portal.
Uma rua quieta, um condomínio. Um lar e uma vizinhança, família. Todo mundo no mesmo barco e rindo, destruindo o vendaval.
A chuva faz a rua virar um rio. Mas vai ficar tudo tão bonito, quando vierem os homens de fora. A vida fica pra depois.
Uma rua vira inferno, no domingo. Uma feira, uma loucura matinal. No mesmo lugar onde se transita, se protesta e se vive o carnaval.
Essa é minha cidade, nova. Uma velha amiga, eu diria. É amor e raiva ao mesmo tempo. Ternura e indignação.
2 comentários:
A-DO-REI!!! Vi BH inteira nesse seu poema. Belíssimo, por sinal!
Obrigado!
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