
Tudo começa com os olhos que serenamente me rasgam por dentro... Um sorriso se abre, nada se diz... Daí, um leve toque de dedos sobre a face alva, afável, para sentir como você me sente e tentar entender a delicadeza do desenho de seu rosto. Pra chamar, em silêncio, a primavera para teus lábios e me fazer brotar em suor de orvalho em cada pétala. Devagar, imaginar como é sentes o calor do vapor do meu ar. Ar que respiro só pra dizer aos sussurros colado ao teu ouvido frases que transbordam em mim e já não cabem mais nas paredes desse nosso camaleão. Sentir aproximar de mim teu ventre e tuas mão a percorrer meu peito e braços, numa dança que começa como carrossel e termina como furacão... Sufocar e recuperar o fôlego, perdido só pelo giro da cabeça que quer que o resto do mundo desapareça, que o quarto ao lado não exista e que não seja preciso ficar cheia de dedos... E fazer das pernas todas uma só... Se assustar com o mundo, voltar ao mundo e segurar os teus dedos, como quem procura decorar como é o tato. E ficar sem saber até onde se pode ir... E imaginar que tua pele é quase minha tatuagem. Que essa pele é a tela que eu queria colorir, bêbado de aquarela, numa febre sem fim... Pintar, com a língua, um desenho que só eu pudesse ver, que fosse maior que o infinito e que coubesse em tua nuca... Deixar, entre os dentes, o resumo de todos os beijos e línguas e pele que são segredos nossos... Num vôo noturno, encontrar um lugar que sempre será nosso e que iremos revisitar sempre, ou um cantinho que eu deixarei pra você se deitar ao lado (ou será que é você que me deixa ficar com o resto do espaço?)... E adormecer, louco e sensato, esperando uma nova manhã e uma noite mais além...