
Eu estava mexendo na minha gaveta, ontem, e achei um retrato nosso, daquelas férias que passamos na casa de sua irmã no Amapá. Faz tanto tempo...
Não me contive e soltei uma gargalhada. Confesso, que me senti confusa ao ver sua expressão naquela foto, entre pateta e apaixonado.
Olhando bem para essa fotografia, nem reconhecia mais a gente... Parece que foram outras pessoas que tiraram aquela foto. Definitivamente, a gente não podia estar ali naquela foto. Devia ser montagem. Era o que eu queria acreditar. Mas, para o meu espanto, éramos nós, mesmo.
É engraçado eu ver o quanto o tempo mudou nossas vidas. Ainda me lembro que você falava empolgado sobre o serviço, trazia uma flor roubada de jardim para mim, fazia uma canção improvisada para nossa filha...
Você era um bom pai. E eu sei que implicava com sua barba. Mas achava o máximo. Você ficava realmente muito lindo de barba.
Sei lá, tudo agora é tão distante... Eu era feliz. Eu tinha tudo o que uma mulher poderia querer: atenção, carinho, respeito. Isso é o essencial. De que mais é preciso para se fazer uma mulher feliz?
E agora... Ah, a vida caprichou com a gente. Você escolheu jogar tudo fora, como se nossa vida fosse um buquê que secou com o tempo e não restasse mais nada a fazer. Você preferiu ser egoísta e pensar só em você.
Uma pena. Confesso que pensei isso: uma pena.
Já tive raiva, já chorei por isso, já me senti boba e tudo mais. Hoje, eu só acho que você podia ter pensado um pouco em quem gosta de você.
Eu sei que foi um misto de sentimentos o que eu senti. Até uma leve adimiração, pela sua coragem. Admito que em seu lugar, não teria tanta coragem para escolher sair daquela vida que te fazia infeliz. Eu teria vivido minha vidinha da mesma maneira, até um dia em que eu me perguntaria: "Por quê?" E pensaria em seguida: "Agora já foi..."
Tirar a própria vida é um pouco de coragem, egoísmo e loucura. Que, graças a Deus, eu não tenho o suficiente.
Mas fica a saudade, ainda. Quando, sem querer, eu vejo uma fotografia tua.