
Quem não acredita em vida após a morte?
Eles eram quatro amigos desde a adolescência. Naquela época, eram um bando de desajuizados. Viviam bebendo e farreando. Até aquela noite fatídica.
Como de costume, beberam muito, pegaram o carro do pai de um deles e sairam sem rumo. No meio do caminho, alguém teve a ideia de ir a uma cidade próxima e foram na direção do viaduto que ligava os dois municípios.
Dentro do carro, ouviam Mettalica, cantavam, bebiam e riam muito. E a velocidade só fazia aumentar.
De repente, enquanto zigue-zagueavam pela contramão já sobre o viaduto, um caminhão apareceu também a toda velocidade. O som forte da grave buzina ressoou nos ouvidos deles por alguns segundos, as luzes dos faróis cegaram a todos.
Naquele instante, cada um viu passar diante de si cada segundo de suas vidas. Gritaram com todas as forças, esquecendo-se, talvez, que o grito de nada adiantaria naquela hora.
Morreram todos naquele dia. Nenhum sobreviveu. O impacto fora muito forte. Todos renasceram no instante posterior, quando o caminhão passou a poucos milímetros do carro. Eram agora pessoas novas, renovadas pela quase- morte.
Exatos doze anos depois, souberam pela televisão que aquele viaduto seria desativado. Estavam construindo um acesso mais seguro entre as duas cidades. Decidiram então fazer uma última visita ao viaduto que havia matado os adolescentes irresponsáveis e que fez nascer os homens que se tornaram.
Entraram no carro de um deles e foram para lá, ouvindo no rádio uma música dos Beatles. Sorrisos serenos e papos relembrando os velhos tempos. Chegando a beira do viaduto, pararam o carro no acostamento e desceram para contemplar mudos o por-do-sol. Foi uma celebração à lembrança, à vida. Em frente estava o lendário viaduto, que seria implodido na próxima semana. Seria sempre o viaduto da morte. O viaduto da vida. O viaduto deles. Sim, era deles o viaduto. Era das almas que renascem.