domingo, janeiro 19, 2025

O SOL NASCE DE NOVO


Amanheceu. E o dia estava claro.
No céu pairava um tom de azul raro.
O sol brilhava com ternura estampada.
Nuvens brancas na celeste esplanada.

A luz alegrava o verde da vegetação.
O orvalho se assemelhando a cristais.
A paisagem era como cartões postais.
O ar úmido penetrava o meu pulmão.

As chuvas haviam passado, afinal. 
Lavaram a bela atmosfera matinal.
Renovando as esperanças na vida.

E eu estava com o coração radiante.
Sem nuvem alguma no meu semblante.
Renovado o miocárdio a cada batida.

Luminoso por dentro e por fora.
Finalmente, o cinza foi embora.

Dádiva conquistada e por mim forjada.
Um sorriso sincero com esmero pra coroar.

domingo, janeiro 12, 2025

FAROFA

Ela vinha com seu cachorro na coleira andando devagar pelo passeio. Farofa era o nome dele. Ela reservava uma hora do dia para se dedicar ao Farofa, todos os dias, às 20 horas e 30 minutos. Tinha sempre um grande sorriso no rosto, enquanto caminhava com seu amigo.


Farofa andava devagar porque já tinha 15 anos. Farejava bastante o ambiente, procurando os aromas escondidos em cada lugar. De quando em quando, parava e olhava para a sua tutora com um misto de reverência, amor e pedido de permissão para continuar a caminhar.

Era perceptível a cumplicidade dos dois. Qualquer um podia ver que eram muito felizes pela presença um do outro em suas vidas. Uma parceria bonita de se ver.

Ela trabalhava fora o dia todo e, quando chegava em casa, era uma alegria sem fim, para os dois. O cãozinho feliz pela volta dela e ela feliz pela calorosa recepção. Em seguida, depois de comerem alguma coisa, eles saiam para suas aventuras juntos.

Farofa foi um presente inesperado. Ele havia sido abandonado ainda filhote na praça do bairro. Ela estava passando para ir comprar pão, quando o viu lá na praça. Comoveu-se. Sem pensar muito, o tirou dali e o levou para seu apartamento. Não se arrependeu: ele era comportado e uma boa companhia.

Tantos momentos passaram juntos. As memórias eram ricas, cheias de sons, cores e cheiros. Dava pra escrever um livro!

Esse convívio era pleno. Um ensinou ao outro a lição mais importante de nossas existência: a importância do amor. Só o amor vale a pena.

domingo, janeiro 05, 2025

HORA DE REGRESSAR


Ela me mandou uma mensagem. Li com carinho nos olhos. Mas a mensagem não era dela. Era de um anjo, agora eu sei.

Na mensagem, uma foto manuscrita do passado. Eu me via refletido no espelho retrovisor. Era curioso ver meu corpo, como se fosse de outra pessoa. Eu reconhecia na pele, por quais sinapses o impulso nervoso passou pra me informar da sensação pretérita. Havia duas testemunhas, agora, do que eu vivi: eu e minha consciência do passado.

De repente, uma fagulha se acendeu. Eu sempre tive boca, mas nem sempre ela dizia. Naqueles dias, as letras no papel virtual falavam por mim. Hoje, eu já articulava algumas palavras soltas, tímidas, para poucos. Conseguia dar vazão ao que eu sentia, numa conversa amiga. Contudo, esquecera das poesias, das prosas, das viagens literárias, do laboratório do alfabeto.

Então, uma porta se abriu. Por que não aprender a me expressar amplamente, com garganta rouca e teclado enferrujado? Eu poderia continuar os diálogos com pessoas próximas e somar a eles o esculpir verbal grafado e periódico no velho local de publicar a insanidade e a serenidade.

A literatura seria uma boa amiga? Eu ainda sabia andar nesta bicicleta? A rotina iria me permitir ou não haveria espaço pra respirar? Não me questionei muito. Só me deixei levar pela sedução de poder, outra vez, brincar no meu parquinho.

Agora estou aqui. Como quem regressa de uma viagem. Não a mesma pessoa, porque o grande professor Tempo não permite e nossa bagagem só faz aumentar. Mas, sim, um novo recomeçar.

O meu desejo não é o retrocesso, mas o regresso ao que vale a pena retomar.