Ela me mandou uma mensagem. Li com carinho nos olhos. Mas a mensagem não era dela. Era de um anjo, agora eu sei.
Na mensagem, uma foto manuscrita do passado. Eu me via refletido no espelho retrovisor. Era curioso ver meu corpo, como se fosse de outra pessoa. Eu reconhecia na pele, por quais sinapses o impulso nervoso passou pra me informar da sensação pretérita. Havia duas testemunhas, agora, do que eu vivi: eu e minha consciência do passado.
De repente, uma fagulha se acendeu. Eu sempre tive boca, mas nem sempre ela dizia. Naqueles dias, as letras no papel virtual falavam por mim. Hoje, eu já articulava algumas palavras soltas, tímidas, para poucos. Conseguia dar vazão ao que eu sentia, numa conversa amiga. Contudo, esquecera das poesias, das prosas, das viagens literárias, do laboratório do alfabeto.
Então, uma porta se abriu. Por que não aprender a me expressar amplamente, com garganta rouca e teclado enferrujado? Eu poderia continuar os diálogos com pessoas próximas e somar a eles o esculpir verbal grafado e periódico no velho local de publicar a insanidade e a serenidade.
A literatura seria uma boa amiga? Eu ainda sabia andar nesta bicicleta? A rotina iria me permitir ou não haveria espaço pra respirar? Não me questionei muito. Só me deixei levar pela sedução de poder, outra vez, brincar no meu parquinho.
Agora estou aqui. Como quem regressa de uma viagem. Não a mesma pessoa, porque o grande professor Tempo não permite e nossa bagagem só faz aumentar. Mas, sim, um novo recomeçar.
O meu desejo não é o retrocesso, mas o regresso ao que vale a pena retomar.
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