sábado, novembro 14, 2009

CHAMINÉS


Na rua, ao longe, o encontro da esquina.
Na esquina, havia mais que um muro.
Quem quer que fosse, passava e olhava.
Um menino que atirava pedras nos pássaros que voavam.
Uma fria chuva de penas mornas.
Houve quem tirasse o chapéu.
E eu era só uma chaminé na velha cidade...

A ARTE DE DEIXAR NO VÁCUO


- Cadê?
- O quê?
- Esquece, vai...

MINHA ILHA


Se alguém tiver um endereço vago,
use pra si.
Vou pro meu isoladamente belo!

sábado, novembro 07, 2009

MISERE NOBIS


É, meu velho, é difícil deixar o vício.
Ainda mais vencer o hábito do punho fechado.
Você tem sorte do meu veneno ser ralo,
de eu ser um velho galo de briga cansado,
e de eu não querer me matar com meu próprio ódio.
A minha sorte é ter o peso dos anos,
as marcas frescas das brigas
e o reforço astuto do saber as consequências.

domingo, novembro 01, 2009

AGUÇANDO O FARO

Eu sinto um gosto de música boa, ao longe.

Um cheiro de vitrola antiga tocando.

Uma cor de um ritmo calmo, gostoso.

Acordei com a música do vizinho.

A PAZ

Branca. Alva. Clara.

Preta. Negra. Escura.

Multicor. Aqui...

O PREÇO

Ela era uma prostituta. E sem pudor. Dizia: "Sou e é é isso!". Fazia 12 anos que ganhava a vida assim. Vida fácil? Não. Mas seguia em frente.

Até que conheceu Roberto. Conheceu-o na cama, como os outros. E, como os outros, realizou suas fantasias. E, como os outros, olhou dentro dos olhos o tempo todo mas, ao fechar a porta, nem se lembrava mas do rosto dele.

Não foi o mesmo que aconteceu a Roberto. Ele ficou com ela na cabeça toda a semana. E voltou lá na semana seguinte. Falou que não conseguiu esquecê-la. Ela riu. Ele completou:

- Você não acredita, né? Mas você mexeu com minha cabeça... Vem cá!

Roberto ainda não sabia, mas ela realmente estava mexendo muito com sua cabeça. Tanto que ele voltou lá três dias depois, no mesmo horário, às 18:00h. E, na sequência, passou a ir encontrá-la quase todos os dias após sair do trabalho.

No início ela se gabou: "Consegui conquistar o cliente...". Mas depois começou a ficar assustada com o aumento da frequência daquele freguês. "Acho que ele se empolgou demais...".

Um mês depois, Roberto fez a proposta:

- Casamento? Me tirar dessa vida? Quem você pensa que é? E com quem você pensa que está falando?

- Eu sei que você também gosta de mim. Sei pelo jeito que você me olha...

- Eu faço isso com todos. É só uma forma de levar os homens à loucura. E deixá-los satisfeitos, pensando que têm algum poder...

- Então vamos ver se eu não tenho razão... Você tem duas semanas pra pensar.

Quando ele saiu e fechou a porta ela riu e pensou: "Esse pirou de vez". Mas passou a noite pensando em tudo que ouvira. Pensando nele. No outro dia, ele também não saia de sua cabeça. Ficou ansiosa para chegar às seis da tarde. "Talvez Roberto tivesse razão e eu esteja apaixonada", começou a pensar. "Ah, nada disso! Eu? Apaixonada? Bobagem...". O riso que se seguiu foi entre o desprezo e o desespero.

Quando ele chegou, tratou-o com uma indiferença forçada. E tentou fazer como sempre fez. Porém, nos dias que se seguiram, pensava mais e mais nele. Um dia antes do término do prazo, falou com ele:

- Aceito o casamento, mas não quero deixar de ser o que sou.

- Por que? Você não vai precisar continuar a...

- Ou isso ou nada feito - disse cortanto o argumento dele.

- Tudo bem...

Casaram-se. Na lua-de-mel, ela disparou ante uma investida dele:

- Pode parar! Não faço sexo sem pagamento...

- Mas você é minha mulher...

- Meu amor é seu, mas o sexo só com pagamento...

Ele olhou-a sem acreditar... Riu desesperado, aguardando ela falar que era brincadeira. Mas ela apenas olhou-o séria.

Ele olhou-a nos olhos por um tempo e mudou de expressão: de surpreso a magoado. Balançou a cabeça em negativa, pegou a mala e saiu do quarto, batendo a porta. Ela ficou imóvel. Estava desfeito o casamento.

Nove meses depois, ela tinha acabado de chegar no velho quarto onde a história começou quando recebeu um recado: já havia um cliente esperando por ela.

Roberto entrou pela porta do velho quarto. Jogou um bolo de dinheiro nela e ordenou:

- Deita na cama!

Ela apenas cumpriu a ordem, calada. Após terminar, ele vestiu sua roupa e, sem dizer palavra, foi embora. Essa cena se repetiu, não de vez em quando, mas todos os dias.