domingo, maio 25, 2008

POROS

Explodo em silêncio pela noite longa e vulgar.
Como um cão vadio, giro pela cidade sem sair do meu colchão.
Nada me é incomum por aqui, já estive muitas vezes nesses lugares.
Só um fato me acalma: olhar para o lado...
Sinto atento o toque da pele,
os poros agora transbordam
um quente desejo calado.
Descubro que as mãos sozinhas podem me fazer girar.
Transpiro o que minh'alma abunda.
Deixo a exaustão tomar-me em meus braços,
quando o dia já avisa que está para chegar.
Os poros agora apenas clamam no silêncio o que já tem.

terça-feira, maio 20, 2008

BOA CÃOPANHIA

Lambidas na minha mão e um abraço.
Ah! Coração aberto!
Sorte de novos rumos seguidos em uma brisa que eu mesmo fiz para mim.
Construir meus acasos pela presença de eu mais feliz.
Na dança que eu observo mas não participo, eu fico feliz e canto.
Um novo amor que eu escolhi para mim:
eu agora sou um cachorro mais feliz!

SOLDADO SENTIDO

Ele andava cabisbaixo pela rua chutando o vento e pensando se seria melhor se nunca tivesse escolhido entrar para o exército. Talvez sua vida fosse outra agora. Estaria em outro lugar, teria conhecido outras pesoas, talvez e, esse sim era um importante talvez, não teria deixado seu coração se endurecer tanto... Quem sabe?
Tentou se imaginar concluindo aquele curso de desenho que ele deixou para trás por causa da carreira militar. Seu sonho era ser tatuador. Estaria agora num estúdio qualquer no meio mais underground que sua imaginação conseguiu formular. E seria um dos melhores tatuadores da cidade.
Mas, a grande pergunta que ele tinha medo de fazer a si mesmo e que, mesmo com tanto medo não deixava de gritar dentro de si, era uma questão maior que o exercício vão de imaginar sobre o que não aconteceu: se tudo tivese seguido outro rumo, hoje ele seria alguém feliz?
Quando essa pergunta aparecia em sua mente, logo tratava de sufocá-la, soterrando-a em meio aos pensamentos mais diversos. Agora, porém, não conseguia mais calar essa voz tão urgente dentro de si.
Foi quando chutou uma latinha de cerveja no meio da rua que não estava completamente vazia. O líquido que nela havia (era mesmo cerveja?) molhou uma das pernas de sua farda.
Disse então em voz alta um palavrão que serviu ao mesmo tempo de um grande desabafo por toda a frustação que podia sentir. Parecia que, a um só tempo, lavava a alma por completo de todas as dores que ficaram secretas em seu coração. Olhou para os lados para ver se alguém vira esa cena. Aliviado pela ausência de qualquer alma viva por ali, parou por alguns instantes e começou a assoviar uma canção que há muito não lembrava, enquanto seguia o seu caminho.

IMAGEM ENQUADRADA


Olhando pelo vidro enquanto você dorme em meu ombro, penso que o mundo é um filme mudo em que somente eu posso falar...

sábado, maio 03, 2008

PEQUENO ANÚNCIO

Vende-se uma caixinha de mágoas, muito resistente, ornada com afinco por mim e pelo tempo, mas que eu já não preciso mais...

CÉU CLARO

Nada de criar tempestades, meu amor. Meu lema hoje é desanuviar!

ÁVIDO

Mais de uma vez caminhei no deserto e fiquei assim, ávido. Sedento de uma sede que me faça sentir a vida pulsando ainda em mim.
Mas não uma sede qualquer: uma que me vem em forma de melodia numa noite coalhada de estrelas, risos e cores azul-carmim.

PORTA DE ENTRADA

O senhor gordo na porta do salão estava sorrindo sozinho. Eu o conhecia de outros tempos. Ele
até me confessou, certa vez, que gostava de ficar sozinho. Falou-me, cheio de dedos mas tentando disfarçar o seu receio, que ficar só lhe fazia muito bem, às vezes...
Contou-me que havia dias em que ele mesmo chegou a inventar compromissos para sair de casa e foi-se sentar só por horas no banco de uma pracinha em um bairro afastado. Disse-me, também, que ultimamente intencionava escapar do mundo que o cercava, por uns tempos, tomando um ônibus sem destino certo ou algo do tipo. Pude perceber que ele só revelou-me tudo isso após certificar-se de que eu não demonstrava nenhum ar de reprovação ao ouvi-lo afirmando o gosto por momentos de isolamento.
Aquelas risadas solitárias na porta do salão fizeram-me sentir feliz pelo senhor que, sozinho, descobriu como ser feliz consigo mesmo.