sábado, dezembro 07, 2013

RODO COTIDIANO

Ele tem um rodo
que faz clarear o dia
quando minha mente
está toda anuviada.

Ele, de pronto, consegue,
num gesto apenas,
fazer meus olhos choverem
pra eu ter um pouco
de luz calma do sol.

O rodo dele me puxa pra perto
e empurra as núvens
pra bem longe
do céu acima de mim.

O rodo que ele tem
se chama amor.

O OUTRO

Ele não queria ver o óbvio e eu não sabia mais o que fazer pra lhe abrir os olhos. Ele fazia questão de enxergar tons monocromáticos como uma enxurrada de arco-íris. Fazia questão de ignorar o peso da gravidade que prende nossos corpos no chão.

Mesmo antes disso tudo, quando andávamos nos rudes campos do lugar em que nascemos, ele não conseguia perceber o perigo dos espinhos das flores campestres. Tudo pra ele era um porto pronto pra nos abrigar.

Ele acreditava demais, até na semente que plantamos no campo e que corria o risco de morrer sem nos alimentar.

Agora pouco estávamos ali, só nós dois, com o vão acima da gente, ninguém por perto pra nos ajudar. A água em volta dos nossos corpos nos sufocava e o vendaval que vinha de cima anunciava que a tempestade que se aproximava nos mataria afogados se não saíssemos dali. A saída estava muito lá em cima, inalcançável, e nós condenados por nos encontrarmos no fundo do poço.

Aquele era nosso triste cárcere, mas ele não queria isso enxergar.

A OUTRA

Ela não queria ver o óbvio e eu não sabia mais o que fazer pra lhe abrir os olhos. Ela fazia questão de enxergar o arco-íris como uma enxurrada de tons monocromáticos. Fazia questão de ignorar a leveza da luz que banha nossos corpos no ar.

Mesmo antes disso tudo, quando andávamos nos doces campos do lugar em que nascemos, ela não conseguia fruir da beleza das flores campestres. Tudo pra ela era um vão pronto pra nos tragar.

Ela desconfiava demais, até da semente que plantamos no campo e se desenvolvia a cada dia para nos alimentar.

Agora pouco estávamos ali, nós dois a sós, com a luz acima da gente, ninguém por perto pra nos incomodar. A água em volta dos nossos corpos nos refrescava e a brisa que vinha de cima anunciava que a chuva que se aproximava nos garantiria que água não iria faltar. A saída estava logo ali em cima, facultativa, e nós agraciados por nos encontrarmos no poço dos desejos.

Aquele era nosso suave refúgio, mas ela não queria isso enxergar.

ME ILUDINDO-LHE

- Você é tão centrado! Eu admiro tanto essa sua capacidade de saber sempre qual o caminho a seguir, mesmo nas situações mais difíceis...
- Eu sou assim? Desculpa, mas eu acho que você está enganado. Na verdade, estou sempre tão perdido e com medo...
- Não acredito que você se veja perdido e com medo! E essa segurança toda que você passa aos outros?
- Sei lá se passo essa sensação. Talvez seja apenas as pessoas se iludindo com a ilusão que eu criei para me manter com um mínimo de esperança e sanidade...

sábado, novembro 30, 2013

TRAVESSIA E ARES

Eu caminhava lentamente para frente e, às vezes, olhava pra trás para ter certeza de que a janela não havia se fechado e os olhos continuavam a me proteger com sua força invisível. Os passos eram duvidosos e parecia que, a qualquer momento, tudo poderia desabar. Não havia medida para o medo, que me parecia engolir num precipício sem fim.

Contudo, a coragem fez morada na minha alma, me deu combustível para as minhas pernas e eu segui em frente. Analisei o risco e fiz o que tinha que fazer: atravessei a rua. O chão era duro, a noite era fria, as pessoas passavam se esbarrando sem nem mesmo se importar.

Então era só questão de tempo até eu me acostumar a caminhar sozinho e começar a querer, quem sabe um dia, te tirar do outro lado da calçada.

quinta-feira, novembro 21, 2013

C. FAMILIARIS

E ela me imitava
nos pequenos detalhes.
E eu sempre sorria
pelas pequenas coisas.

E quando ela pulava em meu colo,
ou eu lhe chamava a atenção com vontade de sorrir,
eu sabia que havia ali nascido um amor.

domingo, novembro 17, 2013

FARTO

Era o fim de uma tarde.
O rato saiu à caça do gato.
Seguia pelo faro a trilha ao encontro.
Hoje era uma noite de revanche.

BK

Sentado pra sonhar.


Os pés forçam
a corrente forte
que me liberta.

O vento vindo
no rosto satisfeito.

Duas rodas
são, na verdade,
duas asas
para mim.

quinta-feira, novembro 14, 2013

SE JOGA

Fazia muito tempo em que ela pensava nessa ideia fixa e aquela noite era a ocasião perfeita para realizar seu intento. Não havia muito a perder e sinceramente ela já não aguentava mais fugir disso. Esta era a hora de transformar sua ideia em ação.

Era noite de sexta-feira e seus parentes viajavam. Ela estava sozinho em casa. Poderia sair sem ser notada. Seus amigos deveriam estar se aprontando para sair e se divertir. Provavelmente não encontraria ninguém durante a pequena caminhada que faria até seu destino.

Andava a passos apressados por ruas escuras daquela cidade, em busca do que queria. Conseguiu vê-lo de longe e foi atraída em sua direção por uma força irresistível.

Chegou ao viaduto mais antigo da cidade. Ele ficava sobre os trilhos do trem e permitia a passagem dos carros, dos ônibus e dos caminhões sem que houvesse congestionamento. Ela olhou lá para baixo e não teve dúvidas: pulou lá de cima num só movimento.

Sentia o ar bater violentamente contra sua pele. Mas ainda assim não sentiu medo. Apenas uma alegria crescente que foi tomando conta dela até que se sentiu suspensa no ar. Parecia que a gravidade havia cessado. Abriu os olhos, que agora não tinham que enfrentar a fúria da resistência do ar, e viu tudo mais iluminado que de costume. Estava no meio da altura da queda, pairando no ar.

Seu corpo não era mais pesado. Tudo era leve nele. Nada conseguia lhe prender ao chão. Ela estava livre, afinal! Por alguns segundos, aproveitou aquela nova sensação, de não ter peso em si, de sentir-se um com o ar.

Depois, percebeu que não conseguia movimentar nada além de seus braços, pernas e cabeça e, por mais que o fizesse, não sairia do lugar. Agora lhe cabia um castigo pior do que estar presa ao chão por seu próprio peso. Sua prisão era sua leveza, a sua liberdade.

sábado, setembro 21, 2013

FOTO SEM NEGATIVO

Eu sou seu fim-de-semana.
Seu oásis, seu respiro.

No nosso cativeiro,
um quarto conhecido,
é que a gente expande o mundo.

E eu faço teu sorriso,
outrora proibido,
hoje mimo límpido
de quem encontrou um bem.

O carinho dedicado,
que o tempo trás consigo,
me faz homem e menino,
nesses braços que repouso.

sábado, setembro 14, 2013

NÓ DE GRAVATA

Ele era um rapaz novo, mas com apenas 18 anos já tinha uma filha prestes a nascer. Precisava trabalhar para sustentar a sua nova família, mas não estava fácil ser contratado. Depois de muito procurar no jornal, conseguiu finalmente um emprego em que aceitavam o seu Ensino Médio a ser concluído daqui a 5 meses. Ele seria vendedor numa loja de ternos do shopping novo de sua cidade.

No começo tudo era curioso para ele, que estava até satisfeito com as novidades. Colegas de trabalho, dinâmica de trabalho, horários e até o uniforme. Todos os funcionários da loja, obviamente, trabalhavam de terno e usavam também uma gravata azul.

Ele, que nunca antes havia vestido um terno na vida, agora já sabia dar nó de gravata até no escuro do quarto em que dormia com a mãe de sua futura filha, para não acorda-la quando saía cedo para trabalhar. Havia ganho também uma significativa melhora em convencer as pessoas com seus argumentos, provavelmente por conta do treino diário em sua função de vendas. Também passou a errar menos quando presenteava alguém com alguma roupa, pois conseguia julgar com grande precisão o estilo e o tamanho exato que iria servir ao presenteado. Estava feliz com sua atual situação.

Contudo, o tempo passou e algumas coisas mudaram. A cada fim de expediente ele se sentia mais cansado e parecia que sua gravata azul apertava um pouco mais em seu pescoço. Aliás, a cada dia sentia que sua gravata ficava um pouco mais apertada. É claro que tudo aquilo deveria ser só uma impressão porque o ritmo de trabalho continuava o mesmo e, todos os dias pela manhã, o nó da gravata era refeito e ajustado confortavelmente ao pescoço dele para que ficasse confortável e bonita ao mesmo tempo.

Contudo, numa noite ao chegar em casa, não conseguiu retirar a gravata. O nó estava extremamente apertado. Quando mais força ele fazia para tirar a gravata, mais o nó apertava em seu pescoço. Começou a ficar sem ar e correu em direção à gaveta, procurando por algo para cortar a gravata. Procurou desesperadamente pela tesoura, mas ela não estava lá. Pensou em gritar por ajuda, mas não conseguia. De repente, sentiu sua visão escurecer. Caiu no chão, sem forçar e desfaleceu. Aquele nó o havia vencido.

terça-feira, maio 28, 2013

O AMOR DOS SINOS


Os sinos tocavam ao longe enquanto eu tocava o seu rosto para preparar-lhe para o beijo que haveria a seguir.

Eu, com os meus 57 anos, confesso que gostava de sentir sua pele macia de quem faria 19 daqui há uma semana, mas tinha um certo receio da malidicença alheia.

Tenho certeza que muita gente reprovaria o nosso amor. Iriam me chamar de canalha ou depravado. De você, duvidariam da sinceridade dos sentimentos.

Mas eu sabia que era tudo real. Eu sabia que era tudo amor. Eu sabia que havia pureza e nada mais. Porque os sinos sempre tocavam quando a gente se via, no meio da rua. Eu ouvia os sinos ao cruzar o meu olhar com o seu. E os sinos não haveriam de mentir e nem de enganar a quem quer que seja.

Você me fazia sentir tão jovem. E eu lhe dava tanta maturidade. Quando eu tinha suas coxas em minhas mãos, sabia que o prazer que eu tinha era o seu também. Afinal, os sinos, nesses momentos, soavam com uma fúria de quem detém a verdade.

E amor é isso! Fazer bem um ao outro. E ouvir os sinos, ainda que eles não toquem mais.

A QUEDA

Ela caiu, no meio da rua. O tombo chamou a atenção dos transeuntes apenas por alguns instantes. Cada um seguiu seu caminho e ninguém se ofereceu para ajudá-la. Ela pisou em falso e quebrou o pé.

Ficou alguns dias em casa, em repouso. Foi o suficiente para perceber que a casa estava tão descuidada! Havia uma parede descascando a pintura. Alguns móveis não eram limpos há tempos. A bagunça engolia a casa. Como morar sozinha e trabalhar e estudar o dia todo era complicado!

Depois, ela começou a pensar em seu trabalho e no estudo. Nenhum dos dois a fazia feliz. Ela trabalhava porque precisava de dinheiro e estudava porque precisava de uma promoção no emprego pra ter mais dinheiro. E assim, era quase uma escrava! Tanta dedicação a um patrão que nem sabia que ela existia, diluida em sua empresa multinacional.

Aliás, poucos eram o que sabia de sua existência. Quando se mudou do interior para trabalhar na capital, deixou para traz uma família e poucos amigos. A pequena família às vezes entrava em contato com ela, sempre cobrando uma visita que era sempre adiada, mas pelas conversas ela percebia que eles queriam uma filha, uma irmã, uma sobrinha que não existia mais. Não tinha mais 18 anos. Estava com quase 40! Dos poucos amigos daquela época não tinha mais nenhuma notícia. Seria provável que, se cruzasse com algum deles numa esquina, não conseguiria reconhecer. Os novos amigos... Bem, estes não eram necessariamente "amigos". Mas eram companhias em algum momento e não havia opção melhor.

Tentou afastar os pensamentos pessimistas, mas sempre que pensava em si mesma, não havia algo que conseguisse encarar como positivo. Inclusive, percebeu que há muito não pensava em si mesma e se deixava afogar numa rotina massacrante, mas que a deixava exausta o suficiente para não ter tempo de se doer por si mesma.

Foram longos esses dias de repouso, até que seu atestado venceu o prazo. Ela, porém, não tinha forças para sair de casa, nem mesmo para se levantar da cama. Continuou por dias ali. A comida da dispensa acabou, mas ela não saiu para comprar mais. Já não sentia fome. Já não sentia nada. Queria apenas deixar de sentir ainda mais. Deixar de sentir o amargor que ficava sempre em sua boca, em sua mente. Depois da queda, não podia mais se levantar e não havia mão alguma a lhe servir de apoio.

Ela, assim, se entregou ao chão.

domingo, fevereiro 24, 2013

DESCOBRIDOR DOS SETE CÉUS

Eu abro a boca: Aaaaaaaahhhhhhhhhhhhhh!!!
E sai de mim um mundo desconhecido.
"Fui eu quem falou isso?"

Eu abro o guarda-roupas: Oooooohhhhhhh!!!
Surpresa em não reconhecer meu rosto.
"Será que eu não me conheço?"

Eu abro a folha de papel: Uuaaaaaaauuuuu!!!
Um sentimento ignorado se revela.
"Será que este será o último desconhecido?"

Eu abro o diálogo: Huuuuummmmmmmm!!!
Difícil dizer sobre o que eu sinto que existe, mas não sei.
"Dorme, razão! Deixa eu me mostrar pra mim!"

terça-feira, fevereiro 19, 2013

BEM ASSIM!

E a vida vai levando a gente.
E a gente vai levando a vida.
E, de repente, o dia amanhece...

quarta-feira, fevereiro 13, 2013

O DOM SECRETO

O menino estava na cozinha, sozinho. Estava treinando a forma de utilizar seu dom: ele era capaz de fazer pequenos objetos levitarem. bastava pensar com bastante força que queria vê-los no ar que eles obedeciam.

Mas era um dom secreto. Ninguém podia saber que ele era capaz disso! Aprendeu com um desenho que, caso descobrissem do que ele era capaz, ele podia ser visto como alguém muito estranho e até mesmo ser escravizado pelos humanos "normais". Aliás, quanta coisa tinha aprendido com a televisão em apenas 10 anos de idade!

Estava atento ao redor, para não ser surpreendido por ninguém. Não podia confiar em nenhuma pessoa, nem mesmo em seus pais. Só lhe restava guardar o segredo consigo, para o resto de seus dias.

Pensava consigo mesmo que aquele dom poderia lhe ser útil algum dia. Poderia fazer sua vida melhor. Mas naquele momento, ele precisava desenvolver suas habilidades, como quem vai à academia para desenvolver a musculatura. Este era um tempo de trabalho, até que estivesse bom o suficiente para ir além.

Quando pensava nisso, o mundo se abria diante de si. E as possibilidades eram infinitas. Um pequeno dom pode se converter numa enorme ferramenta, se bem aproveitado. Era tempo de plantar o futuro...

quinta-feira, janeiro 24, 2013

O SEGUNDO AMOR

Ainda está aqui, bem quente na minha memória. Nunca vou esquecer do dia em que as rodinhas quebraram e eu tive que me equilibrar. A bicicleta me desafiava. Eu queria ser livre, mas hesitei. O prazer e o medo da dor. Mas a bicicleta era maior que tudo isso. A ela pertencia o meu coração!

Então eu fui. Segui em frente. Coroei-me um herói. Um orgulho de mim mesmo.

E ela estava ali ao meu lado, a sorrir. Antes estava apreensiva, assim como eu. Aquela menina ficou feliz porque eu tive a minha vitória. O sorriso dela era pela minha conquista.

Parei a bicicleta mais a frente e ela me deu um beijo no rosto. Senti o sangue ruborizando minha face. Tive vergonha, mas era bom. E eu chamei aquilo de amor.

De noite, os sonhos foram sobre bicicletas e uma menina na garupa. Havia grama, uma rua de terra e bastante sol. Era como se eu sempre soubesse andar sem rodinhas e nunca houvesse existido um tempo antes disso.

Na manhã seguinte, a decepção. A bicileta estava lá, a pracinha  e a rua de terra também. O sol e a grama em seus devidos lugares. Nunca mais vi a menina. E só me restou pedalar, voltando ao meu primeiro amor.

40 410

C4R0  4M1G0,  0BR1G4D0!
SU4  4JUD4  S4LV0U-M3!

F1QU3  C0M  M3U  35CUD0.
4G0R4,  4ND0  S3M  3L3
M3  M4CHUC4R  S3M  QU3R3R.

50BR3  4QU3L 4  P4Z
QU3  3U  T4NT0  PR0CUR4V4
P0SS0  D1Z3R  QU3  4CH31
B3M  D3NTR0  D3  M1M.

quinta-feira, janeiro 03, 2013

AQUELA MULHER

Lá vem ela, lá vem ela,
com seu corpo de mulher
que me divide, me enlouquece
só de olhar.

 Agora é tudo dela,
o meu faro, o desejo,
os sonhos proibidos.

O gosto da sua pele
latente na minha língua.

E eu ouvi ela me dizendo
que era um belo sentimento
mas na verdade
era puro instinto
de conservação!

O cheiro do pecado
ela guarda a sete chaves
mas joga fora os cadeados
para mim.

Pego suas pernas na dança.
O ritmo me liberta.
Sou pura libido.

Mas acabou a noite.
Lá vai ela. Lá vai ela.
Sem dizer mais nada.
Sem dizer adeus.

FELIZ CIDADE

A fonte na praça dança sozinha a música que fizeram pra ela. Os canteiros em volta dão risadas. As pessoas passam na noite. Apenas passam. O prédio mais feliz é aquele que fica na sombra de todos os outros. O chão é todo de asfalto, belo. O ladrilho do passeio é quase bonito.

Essa é minha cidade, velha. A mais nova das cidades, primas. Cheia de botox na cara, obras cirúrgicas, caras. Uma mocinha do interior que se diz da capital.

Três milhões de tipos de gente ficam jogando dama nas calçadas, andando de skate nos degraus e ouvindo Heavy Metal, enquanto surdos ouvem as pregações do pastor. Os mágicos e as estátuas vivas se apresentam enquanto as fotos e os chips são vendidos.

Eu nasço todos os dias, livre. Venho junto com o sol no meio das serras. Serras de turista: só em um lado bonito. O outro é devastação...

Eu tenho uma praça, livre. A beleza é de poucos, digo! Os museus tecnológicos em prédios antigos. Palmeiras imperiais mostram que o Rei é quem manda.

Uma lagoa poluida, linda! Verdinha que dá dó! Cartão postal das curvas do arquiteto. Beleza de difícil acesso, rica. Pescadores e caminhantes, perto do parque de diversões.

Uma rua de prostíbulos, santa! Lendária e imunda, sempre. A poesia de sua decadência é a beleza de ser o que é.

Um lugar onde se pode ver os bichos. As plantas também estão por lá. Todo mundo só quer ver o elefante. O resto, se der tempo a gente vai.

Uma favela tão famosa e temida. Um grupo de gente de azul. Um morro que leva ao Paraíso. Atrás do cemitério tem uma vida que ficou pra trás.

Umas ruas tão cheias, entupidas. Barulhos e pessoas se irritam. Não sei se choveu ou se tem batida. Pode ser só sexta-feira no horário crítico...

Apaixonantes corredores de lojas e bancas antigas. Artesanato, comida e animais. Uma loucura que a gente gosta e lembra da maça lá no portal.

Uma rua quieta, um condomínio. Um lar e uma vizinhança, família. Todo mundo no mesmo barco e rindo, destruindo o vendaval.

A chuva faz a rua virar um rio. Mas vai ficar tudo tão bonito, quando vierem os homens de fora. A vida fica pra depois.

Uma rua vira inferno, no domingo. Uma feira, uma loucura matinal. No mesmo lugar onde se transita, se protesta e se vive o carnaval.

Essa é minha cidade, nova. Uma velha amiga, eu diria. É amor e raiva ao mesmo tempo. Ternura e indignação.