quinta-feira, janeiro 24, 2013

O SEGUNDO AMOR

Ainda está aqui, bem quente na minha memória. Nunca vou esquecer do dia em que as rodinhas quebraram e eu tive que me equilibrar. A bicicleta me desafiava. Eu queria ser livre, mas hesitei. O prazer e o medo da dor. Mas a bicicleta era maior que tudo isso. A ela pertencia o meu coração!

Então eu fui. Segui em frente. Coroei-me um herói. Um orgulho de mim mesmo.

E ela estava ali ao meu lado, a sorrir. Antes estava apreensiva, assim como eu. Aquela menina ficou feliz porque eu tive a minha vitória. O sorriso dela era pela minha conquista.

Parei a bicicleta mais a frente e ela me deu um beijo no rosto. Senti o sangue ruborizando minha face. Tive vergonha, mas era bom. E eu chamei aquilo de amor.

De noite, os sonhos foram sobre bicicletas e uma menina na garupa. Havia grama, uma rua de terra e bastante sol. Era como se eu sempre soubesse andar sem rodinhas e nunca houvesse existido um tempo antes disso.

Na manhã seguinte, a decepção. A bicileta estava lá, a pracinha  e a rua de terra também. O sol e a grama em seus devidos lugares. Nunca mais vi a menina. E só me restou pedalar, voltando ao meu primeiro amor.

40 410

C4R0  4M1G0,  0BR1G4D0!
SU4  4JUD4  S4LV0U-M3!

F1QU3  C0M  M3U  35CUD0.
4G0R4,  4ND0  S3M  3L3
M3  M4CHUC4R  S3M  QU3R3R.

50BR3  4QU3L 4  P4Z
QU3  3U  T4NT0  PR0CUR4V4
P0SS0  D1Z3R  QU3  4CH31
B3M  D3NTR0  D3  M1M.

quinta-feira, janeiro 03, 2013

AQUELA MULHER

Lá vem ela, lá vem ela,
com seu corpo de mulher
que me divide, me enlouquece
só de olhar.

 Agora é tudo dela,
o meu faro, o desejo,
os sonhos proibidos.

O gosto da sua pele
latente na minha língua.

E eu ouvi ela me dizendo
que era um belo sentimento
mas na verdade
era puro instinto
de conservação!

O cheiro do pecado
ela guarda a sete chaves
mas joga fora os cadeados
para mim.

Pego suas pernas na dança.
O ritmo me liberta.
Sou pura libido.

Mas acabou a noite.
Lá vai ela. Lá vai ela.
Sem dizer mais nada.
Sem dizer adeus.

FELIZ CIDADE

A fonte na praça dança sozinha a música que fizeram pra ela. Os canteiros em volta dão risadas. As pessoas passam na noite. Apenas passam. O prédio mais feliz é aquele que fica na sombra de todos os outros. O chão é todo de asfalto, belo. O ladrilho do passeio é quase bonito.

Essa é minha cidade, velha. A mais nova das cidades, primas. Cheia de botox na cara, obras cirúrgicas, caras. Uma mocinha do interior que se diz da capital.

Três milhões de tipos de gente ficam jogando dama nas calçadas, andando de skate nos degraus e ouvindo Heavy Metal, enquanto surdos ouvem as pregações do pastor. Os mágicos e as estátuas vivas se apresentam enquanto as fotos e os chips são vendidos.

Eu nasço todos os dias, livre. Venho junto com o sol no meio das serras. Serras de turista: só em um lado bonito. O outro é devastação...

Eu tenho uma praça, livre. A beleza é de poucos, digo! Os museus tecnológicos em prédios antigos. Palmeiras imperiais mostram que o Rei é quem manda.

Uma lagoa poluida, linda! Verdinha que dá dó! Cartão postal das curvas do arquiteto. Beleza de difícil acesso, rica. Pescadores e caminhantes, perto do parque de diversões.

Uma rua de prostíbulos, santa! Lendária e imunda, sempre. A poesia de sua decadência é a beleza de ser o que é.

Um lugar onde se pode ver os bichos. As plantas também estão por lá. Todo mundo só quer ver o elefante. O resto, se der tempo a gente vai.

Uma favela tão famosa e temida. Um grupo de gente de azul. Um morro que leva ao Paraíso. Atrás do cemitério tem uma vida que ficou pra trás.

Umas ruas tão cheias, entupidas. Barulhos e pessoas se irritam. Não sei se choveu ou se tem batida. Pode ser só sexta-feira no horário crítico...

Apaixonantes corredores de lojas e bancas antigas. Artesanato, comida e animais. Uma loucura que a gente gosta e lembra da maça lá no portal.

Uma rua quieta, um condomínio. Um lar e uma vizinhança, família. Todo mundo no mesmo barco e rindo, destruindo o vendaval.

A chuva faz a rua virar um rio. Mas vai ficar tudo tão bonito, quando vierem os homens de fora. A vida fica pra depois.

Uma rua vira inferno, no domingo. Uma feira, uma loucura matinal. No mesmo lugar onde se transita, se protesta e se vive o carnaval.

Essa é minha cidade, nova. Uma velha amiga, eu diria. É amor e raiva ao mesmo tempo. Ternura e indignação.