quarta-feira, setembro 26, 2007

MÃOS POSTAS SOB O QUE VIRÁ


Não sou um castelo. Não sou uma montanha. Não sou de aço inoxidável. Não sou quem vai sobreviver às baratas. Não sou um deus pagão. Não sou o herói do dia. Não sou aquele que nunca vai cair. Não sou Aquiles sem calcanhar. Não sou uma bactéria extremófila. Não sou isso daí, não...
Sem forças, eu estico a mão para me segurar, me levantar e, enfim, caminhar sereno outra vez.

terça-feira, setembro 25, 2007

UM LIVRO

Parado na prateleira... Pega. Sopra a poeira. Sente nos dedos a capa semi conservada... Abre e folheia. Nos dedos, o tato de páginas amarelas e desgastadas pelo tempo... Já está velho. Não serve mais. Mas fica tão elegante na estante... Por que o amor por um objeto? Eles, hoje em dia, não servem pra mais nada. Escrever pra quê, meu Deus?

COMO ESTÃO VOCÊS?


Eu vou assim, obrigado. Bem. Uma luta sutil. O silêncio que deixa a surdez transparecer. Um tênue equilíbrio. Um fio azul que vou levando devagar, em marcha, aos poucos, para desaguar no mar da solidez de não sentir a leve agonia que teima em pairar sobre a bruma da manhã. Mais um dia e eu sigo remando...

terça-feira, setembro 18, 2007

NÃO!!!

Desta vez, não! Obrigado...

segunda-feira, setembro 17, 2007

UMA MÚSICA MUITO DISTANTE

O que sopra ao leste vem agora me dizer aos ouvidos:
"-Onde está você aí dentro, meu amigo?"

DEVAS DESENCANTADAS

Num chão em vão, a roupa de linho e ela dança uma valsa que ninguém mais quer tocar. O som saiu do meu ouvido e, pensamentos depois, ela sorriu, meio desconcertada por não perceber que não havia vinho no copo e, portanto, motivo para estar bêbada!
Infelizmente ela era dessas que levam um banho de sobriedade da realidade...

UM TROPEÇO, DO OUTRO LADO DA RUA


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chão raso, duro e infeliz.

FUGA DE ALAN TURING


Idéia genial. E daí? O que fica é o vazio.
"-Ninguém saberá mesmo se sou homem ou máquina..."
Luzes coloridas ao meu redor.
"- Tudo bem, obrigado!"
Desfaz-se o sorriso feito de puro e autêntico Paraguai.
Frio circuito interligado.
Na cabeça, pensamentos malditos me dissolvendo...
Cálculo improvável comprovado pela experiência.
Procuro dinamite pra me acalmar e degustar como drops ou remédio ingrato.
Os olhos quase denunciam...
A lingua treme e eu não quero provar o gosto...
"- O que é isso? Uma maça?"
"- Chama-se Cianeto de Potássio!"

MEU PRINCIPADO

Eu sempre quis ser o pequeno principe. Ficar quieto em meu asteróide, observando o espaço ao redor. Quieto e sereno. Mas não me contentar com isso: voar pelo espaço, pegando carona em cometas. E visitar mundos distantes e desconhecidos...
Já me imagino, vejo-me menino... Em aprendizados e aventuras que só as crianças conhecem.
Numa dessas, eu ganhei uma flor. Eu a encontrei no Jardim das Acácias. Uma flor que poderia ser igual como todas as outras, mas depois que eu a cativei, ela era a única pra mim.
Essa flor, meus amigos, era das mais especiais. Tanto que outras flores surgiam para anunciar que o seu dia estava chegando. E o botão iria se abrir e o mundo se encher de cor, outra vez.
E eu como o princepezinho, quando fosse descrevê-la, descreveria o som da sua voz, o seu jeito de sorrir, e não o quão grande é a casa onde reina essa flor, ou o quanto ganha, como fazem os adultos.
E mais: eu poderia pedir a qualquer um: "Desenha-me um carneiro!" ou enxergaria uma cobra engolindo um elefante no lugar de um chapéu naquele desenho... E teria um amigo aviador. E aprenderia a cativar com a raposa.
Mas a flor seria sempre única pra mim. E nasceria no asfalto e mataria o bêbado que insite em viver dentro de mim.

quinta-feira, setembro 13, 2007

O QUE POSSO VER AGORA

Eu me vejo andando por um mundo onde as estradas dão sempre no mesmo caminho: querer ir além...

segunda-feira, setembro 10, 2007

UM NOVO VELHO OLHAR

Abri a janela do meu apartamento e observei a vista mais uma vez. Depois de um tempo, a vista de um apartamento não significa mais nada pra gente. Acaba-se a graça. No máximo, dois meses. Depois, ninguém quer nem abrir a janela...
Lembro-me de quando comprei meu lar e a vista era a coisa mais importante pra mim: eu olhei aquela imensidão de um mar de prédios ao redor, o cinza da cidade, rasgado pelo céu que insistia em aparecer, acima de tudo...
Os prédios sempre me pareciam flores, que creciam no meio da cidade, como um lindo e imponente jardim. Como eu enxergava vida neles! Sentia que eles compartilhavam comigo o desejo de tocar o céu com a ponta do nariz... Eles eram como faróis, que alegram o navegante quando este vê suas luzes, ao longe... Faziam-me sentir cada vez mais perto de casa, quando eu os via surgir da janela do carro, após ultrapassar os muros de onde trabalho. Eles sempre me faziam pensar que a cidade ficava mais perto dos anjos, e que estes deveriam voar por entre os prédios, encantados com suas luzes que se acendiam e apagavam num balé não sincronizado, porém harmônico.
Depois, a grande magia da vista passou. A gente vai vivendo e muita coisa vai perdendo o tempero... A gente passa a ter menos poesia nos olhos... A vista, meus irmãos, é como a beleza: se está sozinha, cansa. Nossos olhos logo se saciam e querem algo mais depois... Lembrei-me de tantas vistas que passaram diante dos meus olhos... E de tudo aquilo que se tornou eterno e que parece que aconteceu ontem. Um gosto, um sonho, uma promessa, uma canção, um quase fugir, que eu não consegui...
E, repente, sem nem porque, hoje surpreendo-me abrindo a janela, observando essa vista. O que fiz foi apenas chegar mais próximo que pude da janela e deixar soar o grito mais honesto que poderia sair de mim, naquele momento:
- Bom dia, minha linda cidade!

sexta-feira, setembro 07, 2007

DESFEZ E SE FOI

Às vezes, consigo. O segredo é treinar...
Estou quase dominando o aprendizado de uma mágica.
Transformo o que me faz mal em pétalas de dente-de-leão.
E a primeira brisa que passa, eu chamo de amiga...

CRESCER UM POUCO MAIS


É...
Crescer.
Sempre sinto isso.
Tudo vai ficando maior:
As dores, as responsabilidades...
Pra refletir e ilustrar isso tudo, tento fazer
Uma obra escrita qualquer feita em crescente.
Com as suas frases ficando cada vez maiores e maiores...
Sem me esquecer do principal: o que sinto e quero dizer a vocês.
Sinto-me crescendo, amadurecendo a cada linha que eu deixo pra trás.
Ou a cada vez que tenho que virar a página e continuar a seguir adiante sem fim.
Sem olvidar o frescor do orvalho que vem banhar a noite de quem agora só quer acordar.

O PURO GOSTO DA MISTURA

Um lamento entre o sussuro que deixa tudo mais bonito e essa luz do Sol se pondo, que nos faz imaginar o quanto até ele mesmo já sente saudades por antecipação e chora raios laranja...
Sabor de uma saudade, que sinto desde que nasci, de ver o Sol dos dias anteriores.
E que encontro agora, misturada a outros gostos.
Naturalmente, as substâncias puras são raras.
Tudo misturado, como num bolo, pra dar mais gosto.
O gosto de ser o que a gente quiser e o que a gente sempre quis...
Incluindo o gosto da leve felicidade de saber que a Lua se aproxima, calma.
Por um momento, tudo flutua. Lua, poesia, música, são todas coisas do ar...
E, em breve, eu já saberei tocar violão! A Lua que me aguarde...

UM ABSURDO SIMPLES

Algumas gotas de fogo caem do céu suavemente sobre meus ombros. Súbito calor, após a leve garoa que não deveria cair nas terras de aqui.
Eu passeio na rua, enquanto o pequeno grupo passa. Todos muito jovens, daqueles que ainda não tiveram tempo de conhecer a crueldade da vida. Ao menos, a maioria quando os vêem assim o pensa. Vai-se lá saber o que cada coração já teve que suportar e quanto peso o travesseiro de cada um teve que suportar...
A luz do poste mal ilumina a rua e só é possível enxergar alguém na aproximação...
Eu olho pra trás, tentando me contaminar com um pouco de inocência (e esqueço o quanto esse esforço é em vão, pois não se pode fingir essa ingenuidade...).
Volto os meus olhos pra frente novamente, de sobressalto. Respiração interrompida pelo leve espanto que toma minha face. Olho mais uma vez, sem acreditar, e vejo bem que na verdade, são 11 velhinhos!
Meus Deus! Eles sorriem! Tudo é mesmo um absurdo!

quinta-feira, setembro 06, 2007

COMO ESCAPAR DO CLICO?

O buraco. O vazio. O oco. O vácuo. O nada. A falta. A negação. A ausência.
Subitamente, uma lágrima. Sem explicação. Nervos à flor da pele. Silêncio.
Ruas sujas de uma cidade limpa. Luz insuportável de uma noite escura.
Vou dormir, então. Acordo, bem depois, e quero adormecer. Sem mais acordar.
O buraco. O vazio. O oco. O vácuo. O nada. A falta. A negação. A ausência.
Subitamente, uma lágrima. Sem explicação. Nervos à flor da pele. Silêncio.
Ruas sujas de uma cidade limpa. Escuro insuportável insuportável de um dia claro.
Trabalho bom pra encher a cabeça, enquanto as horas passam por mim, graças a Deus.
Até me encontrar em frente ao espelho, mais uma vez.
O buraco. O vazio. O oco. O vácuo. O nada. A falta. A negação. A ausência.
Subitamente, uma lágrima. Sem explicação. Nervos à flor da pele. Silêncio.
Ruas sujas de uma cidade limpa. Luz insuportável de uma noite escura.
Gosto maculado de uma bebida já engolida, às pressas de matar uma sede
que nunca se sacia... Uma cara mais amistosa pra aplacar represálias num
convívio... Uma tela que brilha e um gosto de não querer nenhum gosto.
Novamente vem e vai... E vem, de novo...
O buraco. O vazio. O oco. O vácuo. O nada. A falta. A negação. A ausência.
Subitamente, uma lágrima. Sem explicação. Nervos à flor da pele. Silêncio.
Ruas sujas de uma cidade limpa. Luz insuportável de uma noite escura.
Uma conversa de espinhos, sem querer machucar ninguém.
Eu, quase nu, tentando me enxergar.
Mas, de repente,
um abraço.
O universo se expande,
como no Big Bang!
E, eu sei, o começo do universo foi assim. Num abraço, numa escada, num calor de aconchegantes 18 graus, sob as gotas finas de uma pausa entre o agora e o depois...