sexta-feira, setembro 16, 2011

QUANDO A CASA CAIU


Naquela época, ele construiu uma casa com casca de ovos. Era, talvez, a casa mais bonita das redondezas e a mais exótica, já que todos preferiam construir a suas usando vidro e algodão. A pintura interna foi feita utilizando as gemas enquanto o verniz externo era feito de claras de ovos.

Viveu feliz doze anos naquela casa com sua única filha, mesmo tendo que superar a morta de esposa durante o parto.

Por um capricho do destino, a filha ficou muito doente e também faleceu, fazendo com que o homem não enxergasse mais sentido em viver naquela casa. Porém, havia prometido para a filha durante uma piora em seu quadro que não choraria com sua morte, mas que faria algo para encher, não só a ele, mas outras pessoas de felicidade. Para resolver seu problema e cumprir a promessa que fizera a filha, resolveu destruir a casa. Como? Chamou os amigos mais queridos e deu uma festa.

Todos pulando e dançando ao som de músicas animadas foram pisando nas cascas de ovos do chão e das paredes fazendo um festival de partículas brancas cair e enfeitar por alguns instantes o ar. Foi uma cena realmente memorável para todos e a destruição mais feliz de uma casa que alguém já teve notícias. E é por isso que as casas de hoje são construídas para serem destruídas!

segunda-feira, setembro 12, 2011

AQUELA CASA DE SAL


Uma formiga construindo a Torre Eiffel!
Velocidade qual?
Gotejava minha parca persistência...

Lentamente, a paisagem muda.
Aquela montanha vira planície.
O vulcão violento se extingue.
Célula a célula, a ferida fecha.

Devagar, de tanto vagar,
o caminho encontrou meus pés.

Eu procurava a luz, sem encontrar.
Eu queria um sol fúlgido que ofusca.
Mas era preciso o intermitente vaga-lume.

segunda-feira, setembro 05, 2011

UM INSTANTE DE REVELAÇÃO

Conheci o Beto numa festa. Ele era simplesmente o homem mais lindo que eu tinha visto na minha vida. Sei lá o que deu na minha cabeça, mas eu precisava me aproximar dele de alguma forma. Era algo que eu não entendia bem, a influência que ele tinha sobre mim.

E logo eu, você muito bem sabe, que nunca fui uma mulher romântica. Sempre fui muito prática. Alguns homens até se assustavam, enquanto outros se apaixonavam com meu jeito de ser decidida e prática. O Otávio, por exemplo. Ele me encontrou numa boate e puxou papo comigo, mas nunca esperava ouvir minha resposta firme:

- Que tal você parar de rodeios com perguntas sobre mim e partir logo para o que interessa? Você quer sexo, não é? Eu também! Vamos sair logo daqui?

Posso me lembrar da cara dele de espanto. Quando completamos um ano de namoro, ele me confessou que realmente naquela noite ele só queria sexo, mas quando ele ouviu aquela minha resposta caiu perdidamente apaixonado por mim. E eu tive que confessar que, mesmo um ano depois, o que eu mais queria com ele ainda era sexo mesmo...

Nunca me considerei uma sacana. Longe disso. Eu sempre respeitei homens compromissados, por exemplo, mas com o Beto não deu. Ouvi um amigo brincando sobre a nova namoradinha dele e fiz que não sabia. Como de costume, usei todo meu charme e fugi com ele da festa. Nos amamos no carro dele como loucos, num sexo selvagem e gostoso. Eu nunca quis amor.

Quando você me chamou pra sair hoje, Lucas, fiquei super feliz de poder botar o papo em dia, após três meses distantes um do outro. Afinal somos melhores amigos, né? Só nunca iria imaginar que a namorada do Beto era você, homem de Deus! Quando eu vi você chegar de mãos dadas com ele eu não pude acreditar em tamanha coincidência. Enfim, ele já está voltando do banheiro. Pense o que quiser, faça o que quiser. Eu só precisava te contar isso...

sexta-feira, setembro 02, 2011

VISÃO PANORÂMICA


Um dia essa tempestade passa.
E eu vou ver que lutei muito e muito
para dar apenas dois passos.

Houve muita energia gasta
pra me manter no mesmo lugar.

Minha glória ou minha teimosia?
Uma constrói a outra...
Resta saber se isso matará a minha sede...

quinta-feira, setembro 01, 2011

CADABRA


Ela estava cozinhando. Fazia um almoço trivial. Nem percebia ao certo o que estava fazendo. Estava no modo automático.

Abriu uma gaveta para pegar um garfo e para sua surpresa seu rosto foi banhado de uma luz verde intensa, mas serena. De dentro da gaveta também saíam sons de pássaros cantando, de risadas de crianças, de caixinha de música, de folhas caindo com o vento...

Ela tentou usar os olhos ofuscados por tanto brilho para ver o que havia lá dentro, mas a luz só lhe permitia ver vultos com formas não muito definidas que pareciam dançar.

Sentia-se muito bem com aquele evento. E ela ficou ali olhando a gaveta por tanto tempo que esqueceu do almoço, da fome e da vida.