domingo, janeiro 25, 2009

JOGO DOS SETE ERREOS


Decifra-me ou ignoro..
E algo devia estar aqui..

MEU CALOR

Vou dançar com a chama do teu isqueiro,
pois num afago, começa o ritual.
Sacrifício do recalque, para que nasça o homem sacana,
o homem vontade, liberto de si.
Sem perder a ternura, forte.
E bailar contigo, pra fazer chover em ti.
Num frenesi louco de arrancar suspiros.
De sentir tua pele macia retalhando a minha pele rude.
De sentir minha barba contornar tuas curvas.
De meu lábio saciar em teus lábios.
Minhas mãos agora são o teu lar.
E me afogo em teus seios,
nos teus beijos, na malícia de sua língua...
Eu sou o gás, você é a faísca.
Deixa eu apagar o incêndio com um pouco de gasolina.
Fazer a Lua crescer, até o Sol raiar.
Deixar a insanidade nos guiar, profana.
Num jogo de olhos, língua, dedos e o que mais for.
E num roupante crescente, quase te engolir.
O teu gosto é todo meu.
Até o tremor do deleite ser teu e meu.
Até a fisionomia mudar. Satisfeita.

2010 (OU NÃO...)

Por enquanto, Pedro só vai sobre a linha do trem...

LEIA-ME

Num relance, numa troca de olhares,
num gesto banal,
numa palavra dita, numa outra que foi omitida,
num ritual diário de café da manhã.
Num instante tal,
em que cabe apenas eu e você,
você faz leitura dinâmica de mim.

sábado, janeiro 17, 2009

QUEM ME VÊ

Serenar

daqui pra frente.

Peço a Deus,

Oxalá e Xangô.

Pra voltar

a ser forte.

Assim.

Sou eu.

SURPRESA MATINAL

Ele acordou, lavou o rosto, trocou de roupa. Era uma manhã, como todas as outras são num dia de semana.
Foi para cozinha, colocou o pó no filtro de papel e a água para ferver. Pegou um pedaço de pão com margarina. Antes de comer, lembrou-se de pegar os documentos na gaveta para levar à moça do departamento pessoal. Assim, o aumento cairia mais depressa na sua conta. Guardou tudo num envelope e este na mochila.
Finalmente tomou um gole do café. De repente, sentiu uma calma única. Tão boa que até deixou a xícara na pia por isntantes. O dia parecia tranquilo, muito calmo mesmo. Nunca sua alma repousara tanto. Parecia que os gritos de suas dores que lhe atormentavam dentro da própria cabeça se fizeram silenciar. Curtiu o silêncio por algum tempo de olhos fechados.
Depois, resolveu ir e não se atrasar.
Quando abriu o portão de casa, percebeu que a rua estava estranhamente calma. Foi então que a cabeça girou, vertigem de surpresa, quando percebeu tudo:
Não era calma. Estava surdo!

FOME DE QUÊ?

Acordar,
nadar,
ver novela,
ver amigos,
chover juntos.
Alimento-me.

METAS

Se Deus quiser,
me encontro
na próxima esquina.

MEU REINO

Minha guarda.
Meu chão.
Minha fortaleza.
Meu refúgio.
Minha paz.
Paira, agora,
nas minhas mãos.
Minhas terras
são mais minhas.
E, depois de tanta guerra,
entendo porque
gosto de estar
cada vez mais
no meu lar.
Em mim.

PESADO

Quase tudo morre,
nas veias da cidade.
Eu me via
por aí.

OUTRA VEZ VOCÊ

Você nem existe de fato.
Ou, quem sabe, sim.
Meu herói.
Meu vilão.

LÉGUAS

Deixe eu devorar o kilômetros por hora
e respirar a adrenalina.
Deixa eu ter vertigem!!!!!!
Se você quiser, amigo de metal,
eu danço ao som do motor.
Mais rápido!!! Mais rápido!!!
Encharque-me de combustível
e aerodinâmica febril.
Veloz!!! Veloz!!! Veloz!!!
Que eu só me contento
com a velocidade da luz.
Eu quero mais!!!!!!!!!

ALGUNS DIAS...

Minha cabeça bem lenta.
Bem vazia.
Um cansaço nos olhos,
no corpo, na alma.
Vejo o mundo ser
desesperadamente veloz.
Sinto-me repugnante.
Assim, quero passear
com cavalos marinhos.

AMOR MATERNO

Eu vou te seguir
aonde você for.
Te usar como guia.
Depender de você.
Criar raizes nas tuas terras.
E ser um vegetal.
Só pra aprender
que preciso crescer
sem deixar de ser criança.
E me livrar de você.
Aprender a escapar
dessa sua presença.
Uma herança, um vício
Que me faz reaprender
a ser eu mesmo
todos os dias.

sábado, janeiro 10, 2009

REFORMA ORTOGRÁFICA

Em primeiro de Janeiro deste ano, passou a valer um decreto que diz que eu sei escrever ainda menos que antes...

HORA ESTRANHA

Era seu aniversário. Isso o deixou muito feliz. Não entendia muito bem o porquê de sempre ficar feliz nos seus aniversários. Parecia que, só o fato de ser o dia de seu aniversário, mudava-se magicamente qualquer sentimento de tristeza ou algo do tipo. O certo é que, nesta data sempre sentia-se muito bem. Uma sensação agradável, não uma euforia (que seria algo muito forte, perto do que sentia), mas algo revigorante para a alma.

Andava pela rua sobre o seu skate, de forma natural. Nada de manobras ou exposições de suas habilidades. Apenas andava de skate. Foi à praça no dia do seu aniversário encontrar com um amigo. Nada de especial.

Foi assim que, no meio do caminho, a vida lhe fez uma dessas surpresas que só a vida consegue criar (matando de inveja contadores de estórias e roteiristas com criatividade menor...). Foi num dia (quase) comum de sua vida. Num momento sem grandiosidades. Assim no meio da rua.

Avistou sua avó paterna. Há muito tempo não a via. E por isso, sorriu sinceramente, lembrando com saudade os domingos divertidos na casa da avó, que deixaram de existir sabe-se lá por quê.

Sua avó lhe retribuiu o sorriso e acenou para que ele se aproximasse dela. Numa manobra, ele pôs o skate na direção de sua avó e parou de forma que o skate empinasse e parasse seguro em sua mão.

- Venha cá, meu querido! Dê um abraço aqui na sua avó! Veja só como você cresceu! Nem acreditei quando vi você desse tamanho se aventurando em cima dessa tábua com rodinhas...

- Oi Vovó! Que bom que você está aqui! Saudades...

- Pois é! Eu também! E foi por isso que resolvi aproveitar seu aniversário para te ver. E te trazer um presente...

- Presente Vovó? Não precisava...

- Ah! Deixa disso e abre logo...

- Tá bom...

Ele pegou a caixa e abriu com delicadeza para não rasgar o embrulho... E descobriu o que era:

- Um relógio de pulso?!

- É! Foi do seu avô e achei melhor dá-lo a você. Que foi não gostou?

Bom, realmente não havia gostado. Era estranho ter um relógio de pulso naquela idade. Completava hoje 15 anos e ninguém da sua idade tinha um relógio de pulso. O celular era o relógio de todo mundo. Se algum amigo o visse usando uma coisa tão antiquada e fora de moda, seria uma gozação só. E ele se vangloriava de ser moderno e procurava ostentar essa imagem com todas as atitudes que tinha, as roupas que usava, as músicas que escutava... Não queria se sentir rejeitado pela turma. Queria ser in. E o relógio de pulso era o passaporte para o out...

- Que isso, Vó! Adorei! Só fiquei surpreso. Não esperava um presente...assim...

- Ah então põe no braço, oras!

- É que... Tá bom!

Pôs a contragosto, já pensando que na esquina o relógio sairia do pulso, iria pro bolso e, de lá, direto para a gaveta, de onde nunca mais deveria sair. Só não contava com uma segunda surpresa:

- Fala João! E aí o que é que tá pegando, brother?

Era seu amigo Carlos. Aquele que o estava esperando na praça. A primeira reação que teve foi esconder o pulso, de forma a não chamar atenção para o relógio.

- Carlos? Que que você está fazendo aqui?

- Ué, você estava demorando, resolvi ver se você estava no caminho. Então te vi aqui. E quem é essa?

- Ah! Eu sou a avó do Joãozinho, Marinalva!

"Joãozinho" era realmente uma forma desagradável de ser chamado. Ao menos para João. Parecia que lhe diminuia. Logo ele que tinha tanto orgulho de ter 1,82 metros aos 15 anos. Qualquer diminutivo parecia conferir-lhe um ar daqueles personagens de desenho, que são altos e bobos num contraste que beirava ao ridículo. É claro que Carlos não perdoou a ofensa ao ego do amigo. deu um risinho de lado quando ouviu o "Joãozinho", pois sabia que desagradava o amigo. Não tinha intenção de ofender João, mas entre amigos, às vezes, tem-se o estranho costume de ofender-se e provocar-se mutuamente por brincadeira.

- Muito prazer, Marinalva. Sou o Carlos, amigo do "Joãozinho".

- O prazer é meu! Bom, eu vou indo para sua casa ver seu pai, tá bom Joãozinho?

- Tá bom, Vó!

- Fica com Deus!

- Vai com Deus também...

Ela foi andando e Carlos e João se olharam. João com uma cara brava pelo amigo tê-lo chamado de "Joãozinho". E Carlos com um leve sorriso de vencedor daquela bricadeira entre amigos. Nesse momento, João se distraiu e deixou o relógio a vista. Num relance, Carlos viu o relógio no Pulso de João:

- Que isso aí, brother?

Num susto, ele escondeu o braço e tentou disfarçar:

- Isso o quê?

- É um relógio de pulso?

- Não... Bem, é... Foi minha avó que acabou de me dar...

- Cara! Que louco! Olha só que maneiro!

João não acreditou na reação do amigo. Estava esperando ele dizer que era brincadeira e começar a gozação, mas isso não aconteceu.

- Esse relógio é bonito mesmo, não é? Apesar de não ser prático, mas até que dá um toque no visual...

- É?

- Claro! Olha só! Ele ter um ar de imponência. Ver você assim vestido na moda com um relógio destes mostra que você tem estilo próprio. Na certa vai ter um monte de mina dando mole pra você lá na praça, enquanto a gente toca violão... Por isso também que você é meu amigo: consegue transformar algo antiquado num lance próprio. Teve a manha, brother! Vamos lá que o Luiz tá la com meu violão...

Depois desse dia, estranhamente, as ruas se encheram de adolescentes com relógio de pulso. E João se tornou o mais popular garoto da turma.

A NOVA ERA

Infinitas possibilidades.
Antes prendiam, hoje libertam.
Sigo até o limite
de mim...