segunda-feira, abril 30, 2007

QUASE TOCAR


Quando aquela estrela desgarrar
do negro azul e vier despedaçar,
lembra que ainda há uma mão pra agarrar.
E que, no mais, não há nada de mais...
O sol abre manso as cortinas
com saudade da pele do rosto
num afago que se encerra em paz.
E do pouco que restou no bornal,
sobra a certeza que não é preciso muito
para ser genuinamente feliz.
Poucos sabem olhar o céu e se lambuzar de luz,
tocar a grama e se encher de sol,
beber a água e saciar a vida...
E antes da estrela sair de lá,
lembra que alguém a colocou só pra se ver...
Pois é na mansidão que a mão alcança
aquilo que há de mais difícil de se tocar...

VELHO BAÚ


Guardo todas as coisas, porque não quero fazer bagunça agora... Tiro quase tudo de cena, que preciso de algumas coisas, afinal... Deixa o resto bem guardado. Que os baús servem pra isso mesmo: fica aí, que eu chego um dia pra saber que ainda está tudo aqui. Lembranças...

VAMOS TOCAR NOSSAS CANÇÕES


-O que?
-Fala mais alto!
-Não tô te ouvindo...
-Desculpa, mas dá pra você repetir o que disse?
-Pode gritar, senão não te ouço...
-Fala pausado pra ver se eu consigo entender...
-Aumenta essa música, que esse silêncio está mesmo ensurdecedor...
-E que sejam nossas canções. As velhas, as novas e as que ainda estão por vir...

EIS O NOSSO MUNDO...


Abro os olhos e estou perdido. Que diabos de lugar é esse? Olho ao redor assustado e vejo o céu amarelo, às vezes verde e outra hora branco. Tudo em volta em tons pastéis. Uma música soa ao longe. Eu conheço, mas já faz tempo... Quero voltar, mas pra onde vou? Um menino me mostra o caminho. Estrada de azulejos vermelhos...Vejo um coelho me seguindo. E os pombos apagam as pegadas que deixei. E virei vento. Junto com o mundo. Desde quando algum de nós existe?

SEM CONTOS DE FADAS, POR HOJE


Lá vai o cavaleiro, montado em seu alazão, com sua armadura reluzente, sua espada afiada e seu escudo sólido, salvar a princesa, mais uma vez... Ele meio sem criatividade, seguindo o instinto de fazer sempre o que sabe, sem tentar ser diferente, enfim. Com sua espada, corta o que não serve pra fazer do reino um lugar encantado: ervas daninhas de sua cabeça. Feroz, se defente batendo com o escudo. E acha que sua armadura é impenetrável, modelo de perfeição.
A princesa lá, dentro da torre, já meio entediada de esperar o príncipe encantado e aceita até mesmo um sapo... Passa os dias espando o dia em que tudo vai ser diferente... Joga as tranças, mas o príncipe não quer subir...
O cavaleiro chega na torre e ela abre as portas pra ele entrar...
Ele quer arranca-la da torre e aí ela diz que não. Percebe que só há força bruta e nenhum coração.
Venceu o cavaleiro invencível com uma arma sutil: um sorriso de luz...
E preferiu viver ao lado do pássaro que canta para ela todas as manhãs, da brisa que lhe acaricia o rosto, do cheiro de terra e mato molhados de orvalho, da luz da lua serena, do som dos rios ao longe...
E não foi feliz para sempre, porque não há nada mais chato que isso. Ela viveu uma vida normal, com alegrias e tristezas...

VESÚVIO


A casca do ovo se trinca
e revela o que havia escondido.
O que sempre esteve ali, se deixa mostrar.
O vesúvio volta a vida e ruge
por dentro, antes de cuspir e despedaçar.
Sai a energia presa, sob diversas formas...
E sobra o não querer mais...
O ovo presenteia o mundo com vida.
E a bravura do realmente importa
ainda há de mostrar: que fica e que passa...
A essência questionada, vazia de principal.
Aceitar o que é, palavra sublime,
compreender o além, sem se machucar, se entregar...
Viver o sentido e começar a enxergar.
O amor, amigo, que não exige, respeita e
não semea a dúvida passa cego entre nós.
Quem, no mundo de hoje, quer lhe dar atenção?
Não se (me) enganem, senhores: ninguém...
Nun laço massante, amigos e amantes
usam arco e flecha de vento.
Ninguém é culpado, o crime é de todos.
Eu não sei, ninguém sabe, ao menos, acertar...
O vesúvio acordou! Deixa escapar...
O que faz forte a energia é o soterrar...
Eu e Vesúvio. Enfim, irmãos!

CAI, CAI, BALÃO...


Meu pé sobre a linha curva suspensa, longe do chão.
No circo do infinito, pendo pra cá, quase tombo pra lá...
O trapezista, minha gente, já não se importa mais em cair
desde que as redes não sejam assim, piores que o chão.
suspenso o riso, balança no alto, às vezes é choro.
porque claro e escuro, afinal, fazem parte de um só dia!
E entre desequilíbrio e desenvoltura, anda e vai.
Que, de repente, se tromba com os aplausos...
Enquanto se busca o centro de gravidade,
tento lembrar da letra da canção infantil...

VOCÊ PRECISA...


Doce revelar, pouco a pouco, a luz
de um sorriso que sai como os raios de sol
por entre as folhas das árvores.
Os olhos falam e os ouvidos ouvem
a música calma que não tocou...
Do que eu sei e o que eu não sei,
só sei que preciso e você precisa...
Existe um raio de luz no meio
dessa noite toda... A Lua!
Uma mão pra segurar e, quem sabe,
dominar o mundo em uma só noite. Feliz.

MARINA


Levanta a âncora e segue,
que o porto já nos machucou demais
e existe um mar de possibilidades
pra navegar e encontrar a calma.
Porque o mar pode ser feroz e perigoso,
mas, hoje, calmo, balança para
nos fazer ninar de novo...
no ar, havia uma velha canção dos mares
por onde eu atravessei...
Agora, mesmo sem rotas e mapas,
aponto pra uma estrela qualquer
e deixo a fé navegar e guiar por mim

domingo, abril 29, 2007

BANDEIRA BRANCA


Eu já não sei mais o que fazer. Se já não há pra onde fugir... Meu deus! É só um pouco de trégua, porque tudo que eu quero é não enlouquecer...

À CAMINHO DAS ÍNDIAS


A cada dia, entendo e concordo mais com os indianos: a vaca é sagrada e deve ser adorada. Afinal, é impossível não fazê-lo...

9 VÍRGULA 8 METROS POR SEGUNDO AO QUADRADO


Que não sopre agora a brisa,
que não venha o mais leve toque,
que não pouse em cima nem uma mosca,
que não se faça nenhuma vibração,
que não soe mais uma palavra,
que a seda não pese sobre o corpo...
Por que este prédio, senhores,
está condenado e pode desabar
a qualquer momento...
Afinal, tudo tende ao chão.

sábado, abril 21, 2007

NÚMERO 100

Pessoas, o que é isso! Cheguei à 100ª postagem! Que que isso... O número meio que me impressionou. E fiquei pensando porque...
Eu, antes de postar, fiquei pensando: "Vou fazer algo especial pra marcar a ocasião". E então, percebi que eu sou aquilo que menos gosto de pensar que seria: eu sou alguém sem vida! Destes, como quase todo mundo, que precisa comemorar datas e ocasiões, pra sentir os sangue nas veias. Desses que perseguem os números pra consolidar uma ocasião (primeira vez, milésimo gol, 10 anos de...).
Fiquei um pouco triste comigo, que sempre me achei livre dessas coisas e curtia mais uma ocasião do cotidiano que propriamente as datas e ocasiões especiais...
E descobri uma coisa: as pessoas reclamam que eu sumi e não dou atenção com razão! Porque eu não dou atenção pra elas mesmo. Por um simples fato: eu não dou atenção pra mim! Por isso, não dou atenção para o que me faz bem, o que me enche de vida, o que é motivo e razão da minha vida... Eu não tenho vivido A VIDA e sim uma vida...
Tenho me negado o direito de viver, pra investir no presente/futuro, no esquema trabalha/estuda... Fico pensando que cada vez mais faço menos coisas só porque eu quero fazê-las... Cada vez mais, tudo que faço é obrigação. E viver, quase é uma obrigação. Stou vivendo por obrigação. Stão me entendendo?
Por isso tudo stá perdendo o gosto, por isso a falta de paz, por isso as desilusões e o sentimento que, por mais que eu caminhe, sempre estarei perdido...
Chega disso. Não sou do tipo de pessoa que acredita que, a partir de agora, tudo vai ser diferente, porque tudo é um processo. E eu stou me conduzindo à melhoria contínua (rumo à perfeição...rsrsrs). Se eu parar pra me analisar daqui a outros 100 post, como agora, e ver que melhorei um pouquinho só, já fico feliz! Mas não vou marcar data ou ocasião pra isso... Simplesmente vai acontecer, como a vida deve ser...
Obrigado aos amigos que me acompanham e desejo pra todos vocês VIDA, desta ou melhor que esta que eu descobri, toda maiúscula!

domingo, abril 15, 2007

SEM CONEXÃO


Como enxergar algo além do nariz? O que se pode ver, se não se pode fazer pontes com a cegueira? Só há uma razão: sem conexões... Nada justifica o nó. Aproximar do palpável, mesmo que as réguas não entendam. Pra, quem sabe assim, se dizer liberto de mim mesmo...

MALES


De tudo o que me faz viver, eu quero pouca coisa.

Deixar morrer, enfim, o homem só de sombra.

Que a luz tem sede e pede mais e mais e mais...

Pra satisfazer os sentidos, um coração me dei.

Leve de pensar no peso que foi carregar a pluma até aqui.

Espero ficar livre da dor e peço: vem aqui, por favor!

Só quem pode me salvar, até de mim mesmo,

pode, talvez, ver em mim o que o espelho não me revela.

E assim descobrir a navalha que me corta agora...

Eu devia confiar em mim mesmo, podem dizer,

mas os males me fazem apenas querer ouvir

a doce e amiga voz de ninar outra vez...

Parar o que não me deixa dormir em paz

e me faz o mal que, creio que sim, eu mesmo escolhi.

Pelos caminhos de curvas tão certas, tento ler palavras

de força pra quem sustenta flores nas mãos...

As pedras do caminho, então cairão ante a brisa.

Sopro da doce palavra de quem cuida da alma.

E é por isso que, hoje, só preciso ouvir ou dizer:

amigos são para estas coisas...

domingo, abril 08, 2007

ASAS DE CERA


Poucos amigos, mas são os que preciso.

- Vamos jogar?

- Preciso de mim mesmo, um pouco.

-Voa, mas volta.

-Coisa de irmãos...

- Que eu adoro o snoop, sabia?

Qual seria a resposta?

Um cão andaluz...

RESTAURAR


Volta a rua a caminhar ao meu lado, enquanto ando reencontrando os passos que há tempos eu não via mais.

A busca pela ausência da ausência: a presença! Fugir, nem que seja da fuga. Fugir da ausência e reencontrar o sentido.

Sentir, enfim, nem que seja o silêncio do ar parado e calmo e tentar relembrar como era a paz que fazia morada e me fazia tão bem. Descrever o céu parcialmente cinza, parte por ser nublado, parte pela melancolia que me invade e se vai como um carrossel... E tenter redescobrir, como ser tão sereno e não tão melancólico quanto o céu de quase chuva.

Parece mais difícil agora encontrar o caminho que achei sem querer. Parece que conhecendo como foi, fico agora sem saber como voltar aos caminhos que eu trilhava de cor, sem búlsula.

Nas voltas, evito a revolta e volto a buscar o caminho de voltar...

segunda-feira, abril 02, 2007

ASSIMETRIA


Ela vem e me rasga pela diagonal, e eu choro jatos de sal pelas ruas de tijolos verdes... As antenas passam tangente ao peito em dias que os pássaros só querem migrar pra outras terras...

Eu quase pude sentir, mas preferi curtir o tempo... Eu olhei o céu, como se fosse a única fonte de cor, como se fosse a última vez que pudesse fazê-lo, quando os cacos começam a cair em mim... Dei tantas voltas em torno de mim, tentando me achar, como se corresse atrás do próprio rabo que me perdi... Não consigo mais voltar pra casa... mendigo abrigo, mas não há... Vida sem copo d'agua azul pra eu nadar...

domingo, abril 01, 2007

(RE)VELA


Dança nas paredes. A vela se revela. Tudo escuro demais. Eu já fui mais claro. O choro preso na garganta... Pra sobreviver sigo imaginando, no escuro, a luz de uma vela.

ARAPUCA


Eu voltei a ter 6 anos de idade.... Sou um mal menino, e por isso voltei a fazer arapucas. Queria pegar um pássaro. Simples: combina de se colocar a isca, deixa ela como um chamariz, fica meio que distante sem ser percebido e espera o bicho chegar e fazer a armadilha disparar. Mensagem lida e apagada.

Bingo! Teoria comprovada: Não dá pra acreditar nas pessoas. Às vezes finjo que não vejo as coisas pra não guerrear o tempo todo... Mas eu vi, pela manhã...

Agora me resta a pergunta: o que pensar e fazer? Deixa eu brincar de ser feliz...