quinta-feira, novembro 29, 2007

RENOVAR

Nada de negar só para não reafirmar.
Reaprender a ter diversão com o brinquedo favorito.
Recuperar as migalhas de pão que caíram pelo caminho.
Reencontrar um bom amigo: quanto tempo!
Sorrir, bem largo e largado, sonoro e sem porque.
Deixar a luz se revelar e mostrar que as peças magicamente passaram a se encaixar.
Se preocupar com alguém, mas saber-se humano e não super-herói.
Deixar os pés relembrarem com calma os movimentos da dança daquela antiga canção.
Saborear como se o gosto nunca mais fosse acabar.
Tudo passa. E tudo se renova.
O velho, enfim, encontra o menino.

TUDO

Você conhece o tipo de azul que descreve o olhar perdido de uma fada que procura o caminho de volta pra casa?
Você sabe qual é o azul que mora dentro da gargalhada sonora de uma criança de seis meses de idade?
Você imagina o tom de azul que rege o maestro da Primavera?
Você sabia que o verde é pai do azul e mãe do branco da Lua?
Pois é que hoje, meus senhores, eu vi uma flor azul na calçada. E a gravidade parece que parou. Talvez esteja cansada...

sábado, novembro 17, 2007

UM POUCO DE UTOPIA

O mundo, como uma onda. Reflexo do meu pulso de desejo. Que bom seria!

OS RAIOS

Luz tem que ser na medida: se for pouca, os olhos não se saciarão. Se for demais, ofusca e machuca a visão.
Eu fiquei sentado, sob a laranjeira, buscando enxergar qualquer delícia ou delírio nas nuvens que passavam. Mas os raios de Sol, passando pelos galhos, às vezes me impediam. Mesmo assim, não deixava de ver a beleza das luzes que escorriam por entre as folhas.
Os ventos me lembravam o que significava a suavidade e eu deixava o calor leve esquentar minha face.
Pode até não parecer, eu sei. Apesar da serenidade, sou bicho do mato. Sou o vento e a luz. Sou o antes, durante e o depois. E ninguém vai me dizer qual direção meu nariz deve apontar e qual melhor instante.
Da minha bússola, eu sou o norte!

domingo, novembro 11, 2007

FAROL


Um vaga-lume no meio das luzes da cidade...

BARQUEIRO


Sorte de ouvir o mínimo resoar da respiração dos meus pensamentos bons que dizem que a casa do barqueiro é logo ali...

PELA REDE

Eu fechava um pouco meus olhos, para os raios de sol não me atingirem tão de cheio assim. Olhando pela janela do ônibus, eu vi a paisagem mudar lentamente e deixar de ser essas serras que tão bem caracterizam este estado onde nasci e chamam de Minas Gerais, sem saber saborear esta palavra ou mesmo lhe dar o real valor. As serras se transformavam em rochas afloradas sobre planícíes não tão verdes assim. Há muito tempo não chovia...
Apesar disso, pela janela eu enxergava coisas tão bonitas quanto a muito tempo meus olhos não podiam ver. Até mesmo um menino, com um carrinho de madeira na mão, olhando enigmático o ônibus onde eu estava. Do lado, um cachorro preto e branco, mais preto que branco, magrelo. Quase só osso. Dava pra ver também, as mercearias que vendem de tudo e sempre tem um freguês bebendo pinga o dia inteiro nama mesa do lado de fora. Ou a igreja, pequena e singela, com um sino modesto, tocando enquanto o Sol já se prepara para se esconder.
Tudo isso sobre um asfalto esburacado, mostrando que o tempo, diferentemente dos homens, não esqueceu de cuidar da estrada que seguia, virava e sumia quando os olhos perdiam-na de vista.
Distraida, eu olhava até a sujeira da poeira que ficou presa do lado de fora da janela do ônibus. Prestava atenção na falha de impressão no horário da passagem, causada por falta de tinta na impressora da companhia de viagem. Isso quase me custo a perda da viagem, se eu não fosse tão prevenida e chegasse uma hora mais cedo do que pensava que deveria...
Desta forma, eu seguia me distraindo, para não ficar ansiosa demais. Isso, com certeza, era tudo que eu não podia aparentar. E, para afastar isso de vez, fiz questão de nem olhar a última carta que recebi dele.
Achei legal da parte dele, responder a minha carta e perfumá-la, assim como fiz com a minha. Primeiro pensei que era uma coisa meio feminina e não combinava com o jeito dele. Mas eu nunca fui a mulher mais delicada do mundo, não é? Acho que essas coisas já estão meio ultrapassadas nos dias de hoje... Ele era até mais romântico do que eu. Foi ele quem disse primeiro que achava carta melhor que e-mail. Se isso não era romântico, era antiquado, o que também é quase sinônimo atualmente...
Os segundos pareciam uma eternidade. Eu já havia esperado tanto tempo para este encontro e, agora que o momento estava tão perto, era muito mais difícil ter de esperar.
Sei lá. Deveria estar ansiosa mesmo. Ou seria a curiosidade natural?
A princípio, o que fiz foi rir de mim mesma. Eu nunca imaginaria que um dia eu fosse encontrar alguém que eu conheci pela internet...
Mas foi o que aconteceu. Quando o ônibus chegou no meu destino, estava ele lá me esperando, com cara de ansioso. E eu desembarquei como se estivesse super tranquila... Pura pose!
Depois do encontro, as impressões iniciais que aconteceram muito depois do verdadeiro início. A gente passou um dia inteiro juntos. Ele era realmente tudo o que aparentava ser pela internet: inteligente, engraçado, sensível... Foi um dia realmente bom.
Mas... Mas... Sei lá! Pela internet o sentimento era outro... Ele parecia bem melhor... Apesar de perceber que ele era mesmo o que descreveu pra mim, eu ainda preferia aquele ser sem rosto da internet...
Acho que porque assim ele era o oàsis dos meus desejos e não alguém que eu teria que conviver na vida real. Ele não tinha defeitos marcantes, difíceis de serem suportados. pelo contrário. Confesso que até achava graça no jeito desajeitado dele, na sua cara de irritado por algo não sair como o planejado. Até no jeito de reclamar pela demora no atendimento no restaurante, na hora do almoço. Apesar disso, eu teria que dizer a ele isso de preferi-lo pela internete em algum momento...
Eu nem sabia que esse moneto chegaria tão rápido. Quando estávamos na rodoviária esperando o ônibus para eu voltar, ele me perguntou assim, meio sem graça e agoniado, após uns instantes de silêncio:
- E então? O que você achou de mim pessoalmente?
- Legal... Quero dizer, muito legal. Não é legal de "só legal"... Legal mesmo! Te curti de verdade!
- Você está sendo sincera?
- Por que pergunta?
- É sério... Pode ser sincera... Eu não quero te magoar, mas senti que tínhamos um lance melhor pela internet, entende? Acho que é essa coisa de idealizar...
- Verdade?!
- É... Mas não quero dizer que não foi legal. Acho que coloquei muita expectativa. Não que você tenha me decepcionado também, mas pensei que iria ser do mesmo jeito e foi diferente. Nem pior nem melhor: diferente...
Era exatamente o mesmo que eu pensava! Naquele momento eu sabia que éramos almas gêmeas! Falei pra ele que comigo tinha acontecido a mesma coisa. E rimos juntos...
Peguei o ônibus e voltei pra casa. A gente resolveu namorar sério... Pela internet!
Uns onze meses depois, a gente brigou, pelo messenger. E eu joguei na cara dele que ele tinha se decepcionado comigo pessoalmente, mas não teve coragem de dizer...
Isso foi há quatro meses. Hoje, eu resolvi deletar meu Orkut e voltar naquela cidade, pra ver se o encontro de novo e pedir desculpas... Quem sabe não vai na real?

PEQUENA CONTRADIÇÃO COTIDIANA E CORRIQUEIRA

De vez em quando, acontecem algumas coisas que fazem a gente rir e pensar. E tudo aconteceu num passeio pelas ruas próximas de minha casa.
Antes de sair de casa, eu vi aquela propaganda contra a pirataria, em que o cara da banca de DVD pirata pergunta se pode dar o troco para o freguês em bala e, em seguida, aparecem balas de revolver aos montes. Ao dizer que a pirataria financia a violência da sociedade, eu já achei que a propaganda foi levemente exagerada e camuflava segundas intenções e interesses...
Eu não levanto bandeira nem a favor, nem contra. Aliás, minha intenção nem é discutir a pirataria em si neste espaço. Eu só gostaria de relatar um acontecimento, antes de mais nada, engraçado que presenciei.
Estava no meio de minhas andanças pela rua e vi a cena que gerou a foto deste post e que tive que registrar... A vida real é um pouco mais irônica que a gente pensa...
Os mesmos que combatem a pirataria diretamente, lá no cara-a-cara eram freguêses de uma banca de 3 DVDs por R$10,00.
E eu tentando lembrar daquela frase sobre ser o primeiro a atirar a pedra...

terça-feira, novembro 06, 2007

TAKE 7

Uma sede. Areia na boca. Ou gosto de sal. Pega a garrafa: suco de limão! Põe na boca e cospe: Muito açucar... Sai de casa.
Dança no meio da rua uma música que nunca nem ouviu... Segue em frente após tropeçar no meio fio. Chega na praça. Planta aquela semente que estava guardada no bolso... Ouve uma voz, de surpresa. Dá um abraço num amigo e faz pose para a próxima cena.

MEU ANDOR

O eco durou o dia inteiro, enquanto eu errava a esmo.
Qualquer brisa não serve pra mover os barcos.
A gente subia pelas paredes para alcançar o céu.
O som, de vez em quando, me jogava de volta ao chão.
Espero um doce gosto salgado outra vez...

sábado, novembro 03, 2007

À CIMA

As luzes...
O corpo ritimado...
Perfume de cerveja e cigarro...
É isso que eu me lembro...
Há tanto tempo...
Você pode tocar meu sino...

DUAS DORES SE CURANDO

Perto, só mais um passo além...
Eu te vi chegar e cuidar de mim ainda mais.
Um anjo veio andar lado a lado e reconhecer
que, às vezes, a dor também vem lhe visitar.
Se tiver que chorar, não segure.
E pode olhar nos meus olhos, sem medo.
Que o riso ainda virá.
Isso eu sei... Como eu sei? Eu só sei...

MÚSICA, CÉU, GELO

Eu olho para a mesa ao lado. Um casal. A música começa e entra poros a dentro. Os olhos deles se fitam sem fim. O casal quase se beija. Mas parece que algo ainda não foi dito. Ela ri alto, após umas palavras que ele falou sem que os outros ao redor pudessem saber o que é... Ela o distrai e pega um cubo de gelo do copo dele... Mas o soriso após a travessura a condena e ele pergunta o que aconteceu. Nova risada sonora, agora de ambos. O frio do gelo na boca se desfaz rapidamente pelo beijo quente que se seguiu. A música termina e os aplausos quase não vêm. Dava pra ver, pela janela, que foram contratadas estrelas a mais para iluminar o céu daquela noite que ainda não acabou.

DOCE SURPRESA

Anteontem eu pude recuperar um raro prazer: comer gabiroba!
A doce frutinha do campo, de que eu sempre gostei. Tem gosto de infância, de mato perfumado pelo orvalho e pelo sol da manhã. Gosto de pai caminhando comigo e fazendo um passeio, sem rumo certo... Sabor de acordar cedinho num domingo e ir no lote vago ao lado para dar bom dia ao mundo. No paladar, o gesto da vizinha em não cortar a planta silvestre porque havia um rapazinho de 5 anos que gostava muito daquele fruto...
Sabor de uma palavra que pode ser doce, às vezes: saudade... Com o progresso a gabiroba praticamente se foi. É difícil encontra-la...
Mas não é que pude reencontrar tudo isso? Tudo dentro de um único frutrinho maduro, saboreado bem devagar... Nunca o sabor de água com açucar me pareceu tão bom!

sexta-feira, novembro 02, 2007

TATUADO NO CONCRETO

Um trem segue sobre os trilhos e eu digo uma palvra que há muito eu não lembrava que sabia... No concreto, um risco contínuo faz uma linha torta que meus olhos seguem com admiração.
E uma cena dessas sempre me lembra outra...
Eu fui um covarde por muito tempo, eu sei. E se ontem eu só queria o doce beijo da morte, hoje não quero mais nada. Nada mesmo.

SONO DESREGULADO

Olha só: bom dia, mundo! Dormi ontem cedo demais e acordei cedo também! Antes das seis! Solidão enquanto todos dormem: só me resta escrever...