sábado, julho 19, 2014

PROFÉTICO

Naquele tempo, Ele desceu do alto de onde estava e disse à multidão:
"Olhai os desertos, sua vastidão e sua secura. Assim são as pessoas do nosso mundo." (Si 6:66)

CASTIGO E CRIME

Aquela moça sempre se permitia viver o que ela era de verdade. Não era uma fantasia para fazer o carnaval dos olhos dos outros: era sempre a verdade crua de uma segunda-feira de manhã, num ônibus lotado de quem vai ao trabalho.

E isso assustava demais a todos, que se afastavam, porque ninguém queria a aspereza da verdade. O veludo da hipocrisia sempre foi mais sedutor. Contudo, nascia um homem, que vinte anos depois, olharia nos olhos daquela jovem senhora de 37 e ficaria ali perdido.

Ele gostava de apanhar. E não há nada que machuque mais do que uma grande dose de verdade. E a moça, agora já não tão jovem quanto outrora, queria mesmo era espancar e triturar com sua sutileza. Este seria o encontro perfeito e duraria para sempre, se não fosse por um detalhe: eles não estavam numa ilha.

Todos ao redor se escandalizaram. Todos queriam por fim ao tormento de ter que tolerar a pavorosa situação. Colocaram fogo na casa onde eles se encontravam. A morte seria certa para os dois, se não fosse por outro detalhe: não se pode ter a presunção de ter tudo sob controle.

Ela havia deixado o jovem amarrado na cama, com venda nos olhos e foi ao carro buscar um de seus apetrechos: seu chicote de sinceridade. Na volta, as chamas não deixavam que ela conseguisse entrar novamente em casa.

Seria o crime perfeito, se não fosse um detalhe: a verdade, quando está furiosa, não deixa nada de pé. E assim foram aqueles dias...

LÁ DENTRO

Eu, perdido no espaço,
sem espaço em mim,
me sufoco sem dar espaço
ao que transborda por não ter fim.