sexta-feira, março 28, 2008

(RE)POUSAR

Posso ser a pessoa que sou.
Eu passarinho,
passo a passo no espaço
entre meios que passo a usar
para passar despercebido
do povo da praça
e possuidor de um apreço
que só os pássaros possuem
quando se pensam
livres.
Após alcançar o impossvel
para os olhos passados,
pouso de novo em mim.

GIRANTES

Eu queria não ferir mais ninguém
nesse meu carrossel de lâminas de barbear.
Mas você quis entrar
escolheu girar e se cortar comigo.
Assim eu me machuco muito mais.
Mas também vejo mais beleza.
Ouço mais a música do parque.
Acho mais graça na brincadeira.
E vejo-me mais plácido,
mesmo se tenho que sair pela tangente
quando vou mostrar-me demais.

RAMOS VERDES EM REGRESSO

Um dia traz de novo o Sol para colorir as folhas penduradas nas árvores da rua. Eu até duvidei, quando vi no outono folhas e ramos verdes darem-se por vencidos. Isso aos meus olhos. Não podia ver que as árvores apenas guardavam força para enfrentar o inverno (que abençoa as plantas, removendo as pragas) até que, enfim, poderiam florir na estação primeira: Primavera.

segunda-feira, março 24, 2008

SORRISO CARO

Faz um tempo algo mudou.
E por isso, vou tentar um novo ritual:
Diga xis!

EU DESBOTADO

Desde quando o mundo tem tantas cores que parece um insulto o dia em que a gente acorda mais cinza?

QUASE LÁ...

Nesses dias em que eu olho para o céu e a Lua está quase cheia, eu não vejo a hora dela transbordar....

terça-feira, março 18, 2008

ENSIMESMADO

Como é difícil sair de mim e ver o outro! Como custo a enxergar a vida sem o meu filtro de visão! Como é duro pensar de uma maneira que não é minha e tentar alcançar o coração que não bate em meu peito!
Ah! Se eu sou a única pessoa do mundo que não me vejo sem um espelho, já há uma razão para me desconhecer.
Mas não saber do outro é puro vício em saborear meu próprio eu, ou será falta de exercício de observar com sensibilidade?

REBRINCAR

Vamos brincar de ser um bicho preguiça, um elefante ou um girassol. Vamos ser aquilo que nunca fomos. E realizar essa coisa de ir além, que não nos é permitido. Quero ser uma mentira, um saci-pererê.
No mundo da fantasia, quem manda é quem quiser mandar. Todo mundo é rei com toda a realeza. Todas as horas são doces e suaves e todos os pássaros querem te ensinar uma canção.
E vamos brincar de rouba-bandeira pela rua outra vez. Fazer bolinhas de sabão. Desenhar no chão o Sol para a chuva ir embora. Fazer castelos com palitos de picolé.
E levar tudo um pouco menos à ferro e fogo...

EM CARNE VIVA

Me espancaram hoje de manhã. Nove rapazes batiam em mim, enquanto eu gritava de dor. Socos na face, chutes nnos rins, pauladas na cabeça, até eu desmaiar e sangrar tingindo o chão. Pontapés ainda recebi, mesmo desacordado. Por fim, cuspiram em mim, gritaram, xingaram, rasgaram minhas roupas. Riram-se bastante, fartos, não mais sedentos. Jogaram meu corpo inerte em meio ao lixo da calçada. E se foram calmos, assoviando. No hospital, aprendi a ver minhas cicatrizes.
Me sequestraram ano passado. Me tiraram a dignidade, uma parte do meu tempo, da minha vida. Me trancaram num banheiro pequeno, sujo e escuro, sem água nem comida. Me lembro ainda do medo que senti. No final, sairam impunes, andando pelas ruas da cidade. No escuro, aprendi a não querer ver tudo.
Me mataram há cinco minutos. Cortaram minha garganta com uma faca meio cega. Requinte de crueldade. Debocharam do meu urro de dor. E jogaram meu corpo num lote vago. Aprendi a não querer viver para sempre.
Me estupraram há três semanas.Em plena luz do dia. Numa rua sem saída e deserta. Me sinto um bicho sujo e vadio. Doente, dolorido e sombrio.
E eu ainda pretendo ficar de pé.

DAS MARAVILHAS

Ah, agora eu já sei. Você é loira e não deixa ver isso a qualquer um. Você tem as cartas na mão, inclusive a rainha de copas. Você chegou nesse mundo e achou tudo estranho. Você veio atrás de um coelho. Conversou com um gato de botas. E me fez gritar:
- Alice!

ESTANQUE CONTINUIDADE

Eu corto a semana deixando gotejar até quen cada grão de água se vá. Tanto seguir... E para quê? Um eterno contar.
Tudo insiste em ir adiante. E eu também. Sigo o ritmo da vida que só faz continuar, continuar, continuar, até chegar ao fim... E para quê?
Não me acuse agora de sentir o que eu realmente sinto. É isso mesmo, ao menos agora: descrença. Apenas ignore, que talvez assim a vida segue o seu curso... Para aonde?
Já não importa. Eu poderia ir a qualquer lugar que continuaria aqui. E eu só queria chegar a um lugar que ainda não existe. Um lugar só meu, que passará a existir depois que eu o criar.
E tudo ficaria bem. Tudo continuaria: dias após as noites, pássaros voando baixo num por de Sol, chuvas que caem sem avisar. Se eu fosse embora, por um instante perturbaria-se o ar, mas depois não ficaria uma falta, um suspiro, um vazio, um buraco. Nem a saudade ficaria.
Ou melhor, tudo isso ficaria, enquanto a vida, o mundo e tudo mais iria embora, seguindo o seu caminho.

PIC NIC

Vamos passear! Mas não sei exatamente onde...
Se eu tivesse uma toalha de xadrez vermelho, uma cesta cheia de frutas, bolos, suco e coisas assim, procuraria um lugar com Sol, grama e formigas para me deixar ser feliz, por alguns instantes. Seria por todo o tempo que eu me dedicasse a isso, mais próximo do que me apraz. Faria tudo assim: levaria a família e uns amigos que já estão comigo há algum tempo para me divertir... Levaria guitarras e coisa e tal. Faria barulho, caras e bocas. Compartilharia a felicidade, numa noite, junto da Lua. E mudaria, por um instante, de sexo e nome: eu me chamaria Rita.

sábado, março 01, 2008

FAROL II

De novo, um vaga-lume no meio das luzes da cidade...

OUTRA BELEZA

Um lindo dia para se achar o dia lindo, afinal...

SE QUISER...

Eu sei que se eu disser, você não vai acreditar...
Mas juro que é verdade.
Não faz sentido ficar mentindo por isso.
Acontece que aconteceu.
Eu até entendo que duvidem.
Mas cada um é livre para acreditar no que quiser.
Mas foi bem assim:
Eu vi um esquilo...

MEU PAPEL

Muitas vezes, eu estive tão cheio que transbordei tudo que eu sentia num papel em branco, vazio.
Hoje, eu estava tão vazio que o papel escreveu em mim.

MUITO MAIS MEU...

No meu ano, Fevereiro vem antes de Janeiro.
Na minha terra, os calcanhares alcançam o chão antes dos pés.
No meu refúgio, eu dou abrigo antes de me proteger.
No meu cansaço, eu me sinto, antes, satisfeito.
Na minha luta, ninguém vai se machucar se formos prudentes.
No meu sossego, perco a paciência de saber que isso irá se acabar.
No meu carnaval, nunca haverá quarta-feira de cinzas.
No meu peito, todo o dia eu ponho o mesmo coração.
Na minha cabeça, você quer descobrir o seu espelho.
No meu ouvido, ficou o cheiro daquela cor que me doeu de saudades.
No meu samba, eu não quero por nenhum refrão.
Na minha escola, eu me ensino a aprender.
No meu mundo...
Só falta alguns segundos...

EM NOME DA PAZ


Meu amor, a vida não é uma guerra sem fim, contra tudo e contra todos. Podemos, sim ter algumas batalhas pela frente, mas não há só inimigos. E nem todo chão é um campo minado. Não precisamos do arame farpado em cada cerca para que haja um dia depois dessa noite que veio e parece não querer ir.

Abaixe o escudo um pouco, porque ele não pode ferir a todos. Acalme esse coração que doi, aí no fundo de um peito que grita para forçar a existência do silêncio. Não cerre seus dentes, achando que o sorriso te enfraquecerá.

Pode não parecer, mas ainda existem velhas canções serenas, pássaros voando em bando, cheiro de algodão doce, vasos de violetas sobre a mesa e mãos amigas esperando quando você quiser segura-las.

FOTO DA GAVETA

Eu estava mexendo na minha gaveta, ontem, e achei um retrato nosso, daquelas férias que passamos na casa de sua irmã no Amapá. Faz tanto tempo...
Não me contive e soltei uma gargalhada. Confesso, que me senti confusa ao ver sua expressão naquela foto, entre pateta e apaixonado.
Olhando bem para essa fotografia, nem reconhecia mais a gente... Parece que foram outras pessoas que tiraram aquela foto. Definitivamente, a gente não podia estar ali naquela foto. Devia ser montagem. Era o que eu queria acreditar. Mas, para o meu espanto, éramos nós, mesmo.
É engraçado eu ver o quanto o tempo mudou nossas vidas. Ainda me lembro que você falava empolgado sobre o serviço, trazia uma flor roubada de jardim para mim, fazia uma canção improvisada para nossa filha...
Você era um bom pai. E eu sei que implicava com sua barba. Mas achava o máximo. Você ficava realmente muito lindo de barba.
Sei lá, tudo agora é tão distante... Eu era feliz. Eu tinha tudo o que uma mulher poderia querer: atenção, carinho, respeito. Isso é o essencial. De que mais é preciso para se fazer uma mulher feliz?
E agora... Ah, a vida caprichou com a gente. Você escolheu jogar tudo fora, como se nossa vida fosse um buquê que secou com o tempo e não restasse mais nada a fazer. Você preferiu ser egoísta e pensar só em você.
Uma pena. Confesso que pensei isso: uma pena.
Já tive raiva, já chorei por isso, já me senti boba e tudo mais. Hoje, eu só acho que você podia ter pensado um pouco em quem gosta de você.
Eu sei que foi um misto de sentimentos o que eu senti. Até uma leve adimiração, pela sua coragem. Admito que em seu lugar, não teria tanta coragem para escolher sair daquela vida que te fazia infeliz. Eu teria vivido minha vidinha da mesma maneira, até um dia em que eu me perguntaria: "Por quê?" E pensaria em seguida: "Agora já foi..."
Tirar a própria vida é um pouco de coragem, egoísmo e loucura. Que, graças a Deus, eu não tenho o suficiente.
Mas fica a saudade, ainda. Quando, sem querer, eu vejo uma fotografia tua.