sábado, setembro 25, 2010

VINHO TINTO SECO


Ele se vestiu com a melhor roupa que tinha. Saiu com calma e pegou um táxi. Era a primeira vez depois de tanto tempo que ele iria passear num sábado à noite!
Chegou em frente ao restaurante, agradeceu o motorista do táxi, pagou e desceu. Escolheu uma mesa na calçada e pegou um cardápio.
Uma moça de uniforme veio em sua direção para atendê-lo. Quando ela chegou mais perto, exclamou com intimidade:
- Ah, não acredito! Robson?! O que que você está fazendo aqui?
- Ué, estou passeando. Vim jantar!
- Mas logo aqui? Você é louco? Tem tantos outros lugares...
- Pois é... Mas hoje o passeio é por aqui mesmo.
- Só você mesmo pra vir no restaurante em que trabalha no primeiro dia de férias...
Robson era garçon havia 7 anos. Gostava muito da profissão. Através dela, conhecia pessoas, se divertia, convivia com um clima festivo sempre. É claro que tinha seu lado negativo: os clientes chatos, trabalhar no momento em que todos os amigos estão se divertindo...
Pediu apenas uma soda limonada a sua colega de trabalho, que agora lhe tinha como cliente. Olhou no relógio e confirmou as horas. Eram vinte horas e, portanto, estava pontualmente no local combinado.
Na sequência imediata, uma mão tocou-lhe o ombro delicadamente: era Débora. Uma senhora de 52 anos (24 anos mais velha que ele), mas que aparentava ter 40. Era de uma fineza única, denunciando sua procedência abastada. Tinha um sorriso muito belo e olhar cravado na boca de Robson. Eles se conheceram no local de trabalho de Robson, havia exatos dois anos. Ela como cliente e ele como seu garçon.
- O que deseja a bela senhorita?
- Vinho tinto seco, por favor.
Robson percebeu que estava vestida com o mesmo vestido da noite em que se conheceram. Sabia porque havia uma pequena manhca de vinho nele: ele derrubara algumas gotas nela sem querem há dois anos atrás. Segurou-lhe a mão e beijou-a, sedutoramente. Pediram um vinho tinto seco, para rememorar. Conversaram baixo mas alegremente por muito tempo. Era um dia de comemoração. A noite começaria onde a história dos dois teve início e depois iriam a um lugar mais íntimo...
O clima romântico foi quebrado por um homem forte e alto que chegou gritando:
- Ah! Então você está aí? Sua...
Era o marido de Débora. Estava furioso com uma arma na mão, apontando-a ora para Débora, ora para Robson.
- Então este é o seu amante, sua safada?
- Calma Pedro, eu posso explicar...
- Cala a boca! Cala a boca!
Robson ficou paralisado. Não conseguia tomar nenhuma atitude. Lembrou-se dos conselhos que amigos próximos lhe deram, pedindo para que não se envolvesse numa situação de traição conjulgal. Somente naquele momento teve real noção da dimensão de sua decisão.
Tentou acalmar. Em vão. Seu rival nem lhe dera ouvidos.
Alguns clientes ao redor levantaram de suas mesas assustados.
Robson pensava desesperadamente numa forma de resolver aquela situação da melhor maneira possível. De repente, seus pensamentos foram cortados por ruidos secos e fortes. Sentiu uma dor tremenda no peito, ao mesmo tempo em que viu a face de Débora se encher de pavor.
Os três protagonistas cairam sem vida sobre a mesa. O marido em questão de segundos atirou na esposa, no amante dela e depois na própria cabeça. O vermelho do sangue se misturou ao vermelho do vinho tinto seco. Alguém chamou uma ambulância, mas já era tarde.

quinta-feira, setembro 16, 2010

TRI


O casal dançava no meio do salão e se olhavam ternamente. A moça sorria enquanto o rapaz cantarolava a música que lhes embalava os passos.
Era uma cena bonita de se ver. O rapaz, meio duro nos passos por causa de sua perna mecãnica, dançava muito bem, mesmo assim. E era uma música agitada, alegre.
A música parou e as pessoas aplaudiram. Aplausos para a música. Para a festa. Para os dançarinos. Para a vida.
O casal resolveu sentar-se num canto. Pareciam apaixonados. Ele olhava de um lado para o outro, como se esperasse alguém. Mas continuava a conversar com a moça. Sorriam a cada frase de um assunto alegre num dia festivo. Era uma festa de quinze anos.
O irmão da aniversariante aproximou-se dos dois. Ela o abraçou forte, contentíssima por vê-lo e deu-lhe um beijo na boca. Ele olhou ao redor para ver se eram observados e, vendo que ninguém olhava, beijou-o também na boca.
Os três eram namorados havia duas semanas. Era um segredo dos três. Preferiam que as pessoas não ficassem comentando. Não conheciam ninguém que achassem que iria ser um bom confidente, que compreendesse.
Passaram a festa juntos, mas sem levantar desconfianças. No fim da festa, ficaram olhando as estrelas do terraço da casa alugada para festa e cada um voltou pra casa, sozinho. Mas com a certeza de que havia outros corações que aguardavam ansiosos o reencontro.