sexta-feira, abril 29, 2011

QUANDO FALTA...


Quando o rio resolve não correr mais
quando o ponteiro do relógio congela,
quando as ondas do mar ficam no mesmo lugar,
quando a brisa para de soprar,
quando as gotas de chuva ficam suspensas no ar,
quando a respiração espera um instante,
quando a pedra para de criar limo,
quando o tempo para, enfim, e a eternidade
é a semana toda...


Então eu percebo que o tempo ficou veloz,
que eu envelheci muito mais do que eu devia,
que está tudo em câmera acelerada,
que as lesmas correm a 300km/h...


Um paradoxo que me leva
como se o vento soprasse a poeira na direção que ele quer
e eu apenas sou arrastado,
frágil como uma pluma,
nas veias da minha falta de pulso.

quarta-feira, abril 13, 2011

A PORTA MÁGICA


Ela passava todo dia na mesma biblioteca. Estava fazendo sua monografia e precisava a todo momento de consultas bibliográficas. Passava horas pelos corredores de estantes cheias de livro se perdendo num mundo maravilhoso e silencioso de capas, letras, papel...

Há alguns dias ela havia reparado que no fundo de um dos corredores havia uma porta de madeira imponente que contrastava com o estilo arquitetônico da biblioteca.

Aquela porta a deixava muito curiosa. Por que era tão diferente de tudo ali? O que haveria por detrás dela? Algumas vezes ela jurava que saiam luzes coloridas pelas frestas da tal porta. É claro que aquilo não fazia sentido e devia ser apenas algum reflexo do que havia em seu interior. Outras vezes, ela tentava chegar mais perto para checar o estranho fenômeno mas, quando o fazia, as luzes sumiam.

Uma vez, vencida pela própria curiosidade, decidiu perguntar a um funcionário da biblioteca sobre tal porta. A que ela dava acesso? Para sua surpresa, o funcionário disse que não existia tal porta, que ela poderia estar se confundindo. Ela, após tantas vezes encontrar a tal porta, disse estar certa de sua existência. E tanto fez que conseguiu convencer o funcionário a segui-la pra ela lhe mostrar de qual porta falava.

Mas qual era mesmo o corredor em que ficava tal porta? A biblioteca era enorme! Ela tinha quase certeza que era um dos últimos. Rodou e rodou com o funcionário atrás dela e não a encontrou. O funcionário, suspeitando que conversava com alguém que não estava em sanidade mental perfeita, disse que tinha muito a fazer e foi embora.

Aquilo a deixou mais encucada: onde ficava mesmo tal porta? Teria se confundido? Resolveu deixar as questões para depois, afinal tinha muito trabalho a realizar...

No outro dia, estava num corredor quando reparou a tal porta ao fundo. Pensou em chamar o tal funcionário, mas resolveu deixar pra lá. Apenas anotou mentalmente: a tal porta fica no corredor de livros sobre psicologia. Uma semana depois procurava outro livro, desta vez de sociologia, e se surpreendeu mais uma vez: a porta estava lá! Mas como era possível? Tinha certeza de que a havia visto no corredor de psicologia? E agora ela estava lá no de sociologia... Como poderia ser? A tal porta mudara de lugar?

Aquilo tudo estava ficando muito misterioso. Ela resolveu contar para o seu analista sobre o episódio da tal porta, desta vez preocupada com a própria saúde mental. Ele disse apenas que ela estava cansada por causa da monografia e poderia ter se confundido. Mas, que se ela quisesse ter certeza de que não estava ficando louca, que voltasse até o tal corredor e confirmasse a existência de tal porta. Quem sabe até matar sua curiosidade de saber o que havia atrás da porta, caso não houvesse um aviso de acesso restrito ou não estivesse trancada, claro...

Quando ela voltou na biblioteca, não conseguiu localizar a porta. Não estava nem no corredor de psicologia, nem no de sociologia, nem em nenhum outro por perto. A resposta só podia ser uma: estava realmente tendo alucinações. Preparou-se para relatar o fato ao analista na próxima sessão, daqui a uma semana. Mas três dias depois, procurando outro livro no corredor de antropologia, viu a tal porta com as luzes coloridas escapando por entre as frestas. Resolveu acabar com aquele mistério de uma vez: checaria o que escondia tal porta.

A cada passo que dava na direção dela, parecia que as luzes ficavam mais fortes. Ela continuou caminhando até que, quando estava apenas a dois metros da porta, a porta se abriu sozinha. Havia tantas luzes coloridas em seu interior que não dava pra ver o que havia do outro lado. Era preciso chegar mais perto...

Ela pensou que se havia chegado até ali não poderia recuar. Entrou na porta, curiosa e com um pouco de receio, quando a porta se fechou atrás de si. Ela tentou abri-la para sair, mas não conseguiu. As luzes coloridas, cada vez mais fortes, banhavam-lhe cada poro de sua pele, e ficaram tão forte até ofuscar-lhe a visão. Nunca mais foi vista, desde então.