Ele não queria ver o óbvio e eu não sabia mais o que fazer pra lhe abrir
os olhos. Ele fazia questão de enxergar tons monocromáticos como uma enxurrada
de arco-íris. Fazia questão de ignorar o peso da gravidade que prende nossos corpos no chão.
Mesmo antes disso tudo, quando
andávamos nos rudes campos do lugar em que nascemos, ele não conseguia
perceber o perigo dos espinhos das flores campestres. Tudo pra ele era
um porto pronto
pra nos abrigar.
Ele acreditava demais, até na semente que plantamos no campo e que corria o risco de morrer sem nos alimentar.
Agora
pouco estávamos ali, só nós dois, com o vão acima da gente, ninguém
por perto pra nos ajudar. A água em volta dos nossos corpos nos sufocava
e o vendaval que vinha de cima anunciava que a tempestade que se
aproximava nos mataria afogados se não saíssemos dali. A saída estava
muito lá em cima, inalcançável, e nós condenados por nos encontrarmos no
fundo
do poço.
Aquele era nosso triste cárcere, mas ele não queria isso enxergar.