sábado, dezembro 07, 2013

O OUTRO

Ele não queria ver o óbvio e eu não sabia mais o que fazer pra lhe abrir os olhos. Ele fazia questão de enxergar tons monocromáticos como uma enxurrada de arco-íris. Fazia questão de ignorar o peso da gravidade que prende nossos corpos no chão.

Mesmo antes disso tudo, quando andávamos nos rudes campos do lugar em que nascemos, ele não conseguia perceber o perigo dos espinhos das flores campestres. Tudo pra ele era um porto pronto pra nos abrigar.

Ele acreditava demais, até na semente que plantamos no campo e que corria o risco de morrer sem nos alimentar.

Agora pouco estávamos ali, só nós dois, com o vão acima da gente, ninguém por perto pra nos ajudar. A água em volta dos nossos corpos nos sufocava e o vendaval que vinha de cima anunciava que a tempestade que se aproximava nos mataria afogados se não saíssemos dali. A saída estava muito lá em cima, inalcançável, e nós condenados por nos encontrarmos no fundo do poço.

Aquele era nosso triste cárcere, mas ele não queria isso enxergar.

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