terça-feira, abril 07, 2015

O FUTURO DÁ DOIS PASSOS A FRENTE

Um dia normal, como outro qualquer. Ele levantou da cama, se arrumou apressadamente e saiu. Três minutos depois, estava dentro de um ônibus lotado, que balançava seu corpo e chacoalhava sua mente. Sentia que, a qualquer momento, o movimento do ônibus faria sua mente despedaçar e ser corpo ruir, como se fosse feito de cinzas de cigarros. Lembrou-se da companhia dos amigos e de cada cigarro com eles fumado. Teve vontade de acender um ali mesmo, mas não podia. Não agora. Deixaria aquele pequeno momento de prazer para depois.

Decidiu pensar em como lhe foi agradável o último fim de semana. Conversa com amigos, momentos para descansar. Até o tempo estava agradável: nem frio, nem calor, nem chuva, nem sol. Sentia que aqueles momentos deveriam ser mais frequentes em sua vida. Aliás, sentiu que aqueles instantes eram os únicos nos quais ele vivenciava algo que ele poderia chamar de vida, para ser honesto. No restante do tempo, ele apenas sobrevivia. Como seria bom se sua vida fosse diferente. Mas não podia simplesmente mudá-la. Tinha que trabalhar, afinal. Quem sabe quando estiver aposentado...

O certo é que tudo parecia algo distante, a caminho de se atingir. O presente parecia ser roubado dele e ele haveria de se contentar apenas com as possibilidades futuras. Mas a cada passo que ele dava na direção de alcançar seus objetivos, ele os via se afastar um pouco mais. Era como se corresse atrás de uma miragem ou como ver o benfeitor recolher a mão e ir embora. Pensar naquilo tudo era muito triste e era melhor não pensar nisso logo agora de manhã. Era melhor deixar pra depois e tentar começar o dia de forma mais alegre.

Percebeu que o ônibus fazia um desvio em seu caminho. Parece que um acidente impedira o trânsito naquela avenida. Como desceria 4 pontos a frente na tal avenida, pediu para descer e foi caminhando para o seu destino. Logo ao desembarcar, acendeu um cigarro, olhou o relógio e pôs-se em direção ao seu destino. A cada passo, sua cabeça se esvaziava ainda mais. Queria ser mais vazio e não aquele ser cheio de turbulências. Mas isso teria que ficar pra depois. Estava atrasado e precisava se concentrar na velocidade de sua caminhada. Ele tinha pressa pela pressa que os outros tem por ele. Agora ele era da empresa em que trabalhava. Seus planos para si ficariam para depois.

Quando o cigarro acabou, jogou a bituca apagada numa lixeira. Sentiu-se inerte por um momento, contemplando seu ato de abandono. Mas cigarros são assim: haveria de surgir outro para substituí-lo. Esse seria um prazer futuro. Agora, era hora de caminhar. Mecanicamente, passo a passo, seguir em frente. Porque é preciso ir.

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