Salpicar as cores numa tela branca e ver a paz virar festa, e o nada virar alegria. Essa era a profissão daquele jovem recém formado. Muita gente admirada com seu talento e seu futuro promissor e ele apenas vivendo a vida a cada momento.
Naquele dia, ele estava sentado naquela mesa de bar, olhava ao redor a movimentação das pessoas enquanto tomava sua cerveja. Aquelas cores, luz e sombra, tudo talvez numa beleza jamais vista.
Até que seus olhos se cruzaram com outros. Olhos que sopravam levemente um desejo de um furacão. Ele recebeu um sorriso. E como não corresponder? Mais luz surgiu naquele instante e as cores se tornaram mais vivas. O jovem pintor resolveu se aproximar e ser gentil. Quem sabe?
Ao chegar na outra mesa, o homem sentado sorriu novamente e lhe convidou para sentar. Perguntou o seu nome, sobre sua vida e desataram numa conversa que parecia sem fim. Trocaram telefone e cada um foi para sua casa. No dia seguinte, o jovem pintor esperou ansiosamente a ligação daquele senhor, um grande arquiteto, mas não recebeu nada. Nem uma mensagem. Dois dias depois, quando o jovem nem esperava mais algum contato, o telefone tocou.
Os dois se encontraram mais algumas vezes, se apaixonaram perdidamente um pelo outro, e decidiram morar juntos. Mas havia uma condição: o arquiteto exigia que o jovem abandonasse a pintura. "Homem meu não trabalha!".
O jovem ficou estático e incrédulo diante da exigência. Trocaria sua realização por um amor? Havia uma medida que conseguisse comparar o que era mais importante? Seria feliz qualquer que fosse sua escolha ou seria sempre incompleto por abdicar de algo?
Deu sua resposta ao arquiteto e foi comprar suas tintas e uma nova tela. Nos próximos 5 dias pintou num frenesi sem igual. Como sempre, uma tela abstrata, com traços fortes. Mas a combinação de cores que fez era única: conseguiu mesclar alegria, raiva e melancolia como nenhum quadro seu jamais tivera. Muitos críticos disseram ser aquela sua obra prima. A mais complexa, a mais emocionada, a mais emocionante. O último quadro antes dele, inexplicavelmente, largar a carreira de pintor.
8 comentários:
O texto é lindo, sensível, e que nos tira o tapete do chão com um final surpreendente. Não sei estou feliz ou triste pelo pintor. Mas sei, se eu fosse esse pintor, que eu nunca teria minha obra-prima, infelizmente. Bjão
Obrigado, Laly! Pois é: fiquei pensando o preço que se paga por certas escolhas e o que se pode ganhar com elas, não é? Beijos!
Vixe, Rapha. Texto lindo -- e "cruel". Fez-me pensar sobre o que escolheria. Escolhas, escolhas, escolhas... Haja sabedoria. hehe
Abraço.
Nat, eu também achei cruel... Beijos!
Já dizia muito bem a Dona Patricia minha mãe: a vida é feita de escolhas...basta fazer a sua.
seja pelo amor, seja pela profissão, seja pelos dois...nada é em vão...
como já muito bem dito pelo Laly, final surpreendente. e muitas vezes perdemos nossa obra-prima por nao decidirmos...
chique demais =)
Vanessinha, minha querida! As escolhas da vida sempre nos surpreendendo, não é? Beijos!
Nossa!!!
Como muitas vezes já disse: você é capaz de me escrever respostas por perguntas, ainda, não feitas... OBRIGADA!!!
Luanda, que medo disso que vc escreveu... Hehehehehe
Beijos!
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