domingo, outubro 03, 2010

MINHA GRAMA


Aquele velhinho simpático que todo dia passeava em volta da fonte da praça principal às 8 horas da manhã estava atrasado. Mas vinha com um sorriso diferente e uma maleta à mão.
Parou de frente para o gramado e retirou de dentro da maleta uma toalha de mesa xadrez vermelha. Estendeu-a sobre o gramado e deitou por cima dela ficando com a nuca apoiada sobre as mãos. Ficou assim 20 minutos até que o guarda pediu para ele se levantar, pois era proibido deitar no gramado. O velho apenas sorriu ao se levantar, guardou a toalha na maleta e foi embora para casa.
Chegando em casa, preparou um chá de erva cidreira. Sorveu-o alegremente. Quando sua mulher o encontrou na cozinha, ele disse, animado:
- Minha velha, já sei o que é que me falta!
- Do que você está falando, homem de Deus?
- Vou destruir o jardim de frente de casa e vou plantar grama.
- Por que você vai fazer uma coisa dessas? O jardim está tão bonito e bem cuidado...
- O que eu preciso, na verdade, é de apenas grama. Quero ter minha grama verdinha, macia, que eu possa deitar para pegar sol, que eu veja crescer e precise cuidar melhor do que cuido dessas flores... Não quero todas as cores: o branco, o amarelo, o vermelho, o rosa, o roxo... O verde me basta!
"Pronto,! O homem enlouqueceu de vez!", pensou a velha. Mas achou melhor não dizer mais nada.
Ele passou o dia destruindo o velho jardim e preparando a terra para receber a grama. Cantarolava ou assoviava músicas que inventava naquele instante. Estava muito feliz. Pensava que o que fizera pela manhã foi um prelúdio de sua nova construção de felicidade.
Ele estava certo de que ninguém poderia compreendê-lo em sua escolha de trocar um jardim por um belo gramado. Apenas quem tem uma aguçada sensibilidade percebeu que a grama que sucedeu o jardim parecia mais alegre e mais bonita que seu antecessor. Apenas o velho percebeu que ali nascia uma grama mais verde e mais macia.

13 comentários:

Luanda Perséfony disse...

ver DE novo!!!

sempre...

simples...

Rapha Vieira ou um dos seus alteregos disse...

Ei Lu... Seu comentário me deu a impressão de que já escrevi isso... Como estou com preguiça de procurar, vou trabalhar as duas possibilidades: se já escrevi, isso é um sinal que gosto do símbolo da simplicidade e vida da grama. Se não escrevi, viva o ver DE novo! hehehe...
Bjs!

Luanda disse...

Viva a simplicidade de deitar e junto a grama poder ver DE novo...

http://raphaelvieira.blogspot.com/2007/10/o-prazer-de-ver-de-novo.html

Rapha Vieira ou um dos seus alteregos disse...

Lu, ah tá... O que eu sei é que eram sentimentos diferentes e por isso valeu a pena escrever esse aqui de novo... Bjs!

Luanda disse...

mas quem disse o contrário?!

o de novo sempre vale a pena... e mesmo quando igual... ainda é diferente...

Rapha Vieira ou um dos seus alteregos disse...

É, Lu. Tens razão! Bjs!

Laly Cataguases disse...

Não sei o que mais me encantou neste texto: a sua originalidade, o verde vivo da grama do velhinho, o próprio velhinho, a toalha de mesa xadrez vermelha (tão viva quanto o verde do gramado), ou se a confirmação de um poeta que tem deixado um pouco suas poesias de lado pra colocar toda sua sensibilidade em belos textos como este. Eu já havia te dito tempos atrás que preferia suas poesias e suas "viagens textuais" a textos narrativos como este. Mas confesso que já mudei de ideia. Vc, pra mim, tá maravilhoso tanto em um quanto em outro. Sua "caneta" é o prolongamento de seu coração, Rapha. O Sanidade é um espaço seu, de dizeres às vezes bem pessoais, mas obrigado por deixá-lo público e nos presentear com seus belos textos e histórias. Bj no coração!

Rapha Vieira ou um dos seus alteregos disse...

Laly, o que dizer hein? Vc vem, me enche de elogios (a maioria não merecidos...) e faz uma análise profunda sobre uma pequena besteira... São em momentos como este que sei reconhecer o valor de um amigo que incentiva o outro a seguir em frente! Obrigado por encher de sol este humilde blog!! Bjos no coração tb!

Natália disse...

Oi, Rapha...
Putz, como é que você consegue escrever tão bem?

Este texto me lembrou algo que comentei com você um dia desses, sobre o que eu descobri....

Às vezes a gente acha que precisa de muito (um arco-íris, um jardim variado) quando apenas a grama, uma cor (a preferida) basta. Não pelo título de preferida.
Pelo que a faz tão especial: o que provoca em nós.

Bjos

Rapha Vieira ou um dos seus alteregos disse...

Ei, Nat! N~]ao escrevo tão bem não. Vc é que é uma boa amiga e gentil... Olha só: concordo com vc, o texto lembra mesmo nossa conversa, apesar de ser escrito quando eu pensava em outra coisa... Bjos!

Natália disse...

Ah, até parece: amizade, amizade. Elogios e dons à parte.

Pois é... Alguns textos são meio 1.001 utilidades... hehe Este é um caso. Em geral seus textos me fazem refletir sobre assuntos meus do momento. Acho que não só a mim, mas a muitos... enfim...

Abração!

Rapha Vieira ou um dos seus alteregos disse...

Nat, obrigado. Eu sei q vc não acha, mas a amizade influi no seu julgamento... Olha só: que bom que os textos fazem refletir. Alguns são de pensar, outros sem pensar, mas que bom que ele tem mais utilidades que apenas meus exercícios literários. Afinal esse meu blog parece aquelas academias em que o povo se exercita de frente pra uma vitrine. O povo malhando no caso sou eu... Enfim...

Abraços, meu bem!

Natália disse...

Hehehehe ;)