quinta-feira, novembro 14, 2013

SE JOGA

Fazia muito tempo em que ela pensava nessa ideia fixa e aquela noite era a ocasião perfeita para realizar seu intento. Não havia muito a perder e sinceramente ela já não aguentava mais fugir disso. Esta era a hora de transformar sua ideia em ação.

Era noite de sexta-feira e seus parentes viajavam. Ela estava sozinho em casa. Poderia sair sem ser notada. Seus amigos deveriam estar se aprontando para sair e se divertir. Provavelmente não encontraria ninguém durante a pequena caminhada que faria até seu destino.

Andava a passos apressados por ruas escuras daquela cidade, em busca do que queria. Conseguiu vê-lo de longe e foi atraída em sua direção por uma força irresistível.

Chegou ao viaduto mais antigo da cidade. Ele ficava sobre os trilhos do trem e permitia a passagem dos carros, dos ônibus e dos caminhões sem que houvesse congestionamento. Ela olhou lá para baixo e não teve dúvidas: pulou lá de cima num só movimento.

Sentia o ar bater violentamente contra sua pele. Mas ainda assim não sentiu medo. Apenas uma alegria crescente que foi tomando conta dela até que se sentiu suspensa no ar. Parecia que a gravidade havia cessado. Abriu os olhos, que agora não tinham que enfrentar a fúria da resistência do ar, e viu tudo mais iluminado que de costume. Estava no meio da altura da queda, pairando no ar.

Seu corpo não era mais pesado. Tudo era leve nele. Nada conseguia lhe prender ao chão. Ela estava livre, afinal! Por alguns segundos, aproveitou aquela nova sensação, de não ter peso em si, de sentir-se um com o ar.

Depois, percebeu que não conseguia movimentar nada além de seus braços, pernas e cabeça e, por mais que o fizesse, não sairia do lugar. Agora lhe cabia um castigo pior do que estar presa ao chão por seu próprio peso. Sua prisão era sua leveza, a sua liberdade.

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