terça-feira, maio 20, 2008

SOLDADO SENTIDO

Ele andava cabisbaixo pela rua chutando o vento e pensando se seria melhor se nunca tivesse escolhido entrar para o exército. Talvez sua vida fosse outra agora. Estaria em outro lugar, teria conhecido outras pesoas, talvez e, esse sim era um importante talvez, não teria deixado seu coração se endurecer tanto... Quem sabe?
Tentou se imaginar concluindo aquele curso de desenho que ele deixou para trás por causa da carreira militar. Seu sonho era ser tatuador. Estaria agora num estúdio qualquer no meio mais underground que sua imaginação conseguiu formular. E seria um dos melhores tatuadores da cidade.
Mas, a grande pergunta que ele tinha medo de fazer a si mesmo e que, mesmo com tanto medo não deixava de gritar dentro de si, era uma questão maior que o exercício vão de imaginar sobre o que não aconteceu: se tudo tivese seguido outro rumo, hoje ele seria alguém feliz?
Quando essa pergunta aparecia em sua mente, logo tratava de sufocá-la, soterrando-a em meio aos pensamentos mais diversos. Agora, porém, não conseguia mais calar essa voz tão urgente dentro de si.
Foi quando chutou uma latinha de cerveja no meio da rua que não estava completamente vazia. O líquido que nela havia (era mesmo cerveja?) molhou uma das pernas de sua farda.
Disse então em voz alta um palavrão que serviu ao mesmo tempo de um grande desabafo por toda a frustação que podia sentir. Parecia que, a um só tempo, lavava a alma por completo de todas as dores que ficaram secretas em seu coração. Olhou para os lados para ver se alguém vira esa cena. Aliviado pela ausência de qualquer alma viva por ali, parou por alguns instantes e começou a assoviar uma canção que há muito não lembrava, enquanto seguia o seu caminho.

2 comentários:

Luanda Perséfony disse...

“assoviar uma canção que há muito não lembrava”, assoviar canções que por guardarmos tão fundo, as perdemos…

Rapha Vieira ou um dos seus alteregos disse...

Lu, a gente se esconde das canções e não o contrário... Bjs!