segunda-feira, março 15, 2010

DA CULPA


"Eu acordei com uma dor de cabeça terrível. Uma ressaca sem comparações.
Levantei da cama com algum esforço, fui trocar de roupa.
Ao abrir meu guardarroupas... Meu Deus! Havia um cadáver lá dentro!
Um homem com um corte profundo no pescoço de onde o seu sangue havia esvairido, pele fria, endurecido e pálido. Imóvel, de olhos arregalados, numa expressão de pavor.
'O que havia acontecido na noite anterior?' Nada lembrei. Amnésia alcoólica.
'Será que fui eu quem...' Eu não seria capaz.
Mas como explicar isso, então? Os fatos pareciam gritar: 'Culpada! Culpada!'
Me senti o monstro revelado no médico...
Confusa, queria não acreditar que havia um homem desconhecido morto e escondido no meu quarto.
Pensei do ligar pra polícia, mas o que dizer? E se eu fosse a assassina? Tinha eu uma dupla personalidade pra mim desconhecida?
Lembrei-me das várias vezes em que falaram comigo que eu não parecia a mesma pessoa quando bebia, das vezes em que me queixei com minhas amigas por sair com um homem e ele simplesmente desaparecer depois, sem ligar nem atender meus telefonemas.
Um pensamento horrível me veio: 'será que este homem do meu armário não era nem o primeiro nem o único?'.
Não, isso eu não podia suportar. A hipótese de ser um monstro me aterrorizava. Como eu tive tanta crueldade? Eu teria que fugir? Havia como pagar pelo crime e remediar a situação? Como fazer para eu controlar essa assassina oculta em mim?
Eu mesma não via saída para mim.
Por isso, decidi me matar.
Espero que, quando minha família e meus amigos lerem isso, eles entendam a minha escolha de matar o monstro dentro de mim. Adeus."
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E começamos com uma notícia trágica e irônica: uma mulher suicidou-se hoje em seu apartamento. Deixou um bilhete contando o motivo do seu suicídio: encontrou um homem morto em seu guardarroupas.
Outro bilhete foi encontrado no corpo do homem morto.
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"Eu preciso confessar a todos: sou o maníaco que matou 13 mulheres nos últimos dois meses. Mas hoje, ao dopar a dona dessa casa, encontrei sobre o criado mudo um frasco com o mesmo perfume que minha mãe usava. Nesse momento, me arrependi de ter feito tudo que fiz. Enxerguei o monstro que sou. Por isso, decidi me matar. Espero que Deus me perdoe."

4 comentários:

Anônimo disse...

Nossa Rafa,
juro que fiquei toda arrepiada!
Muito forte e tão bom quanto.

=*

Rapha Vieira ou um dos seus alteregos disse...

Luiza, brigado! ^_^

Laly Cataguases disse...

Oi, Rapha. Apesar da trama bem amarrada, achei o texto sem o seu costumeiro pulso e poesia, pois pra mim vc coloca poesia até nos textos mais densos e pesados (pesados pelo menos pra mim). Vc é bem diversificado em suas escritas, mas achei esse (a narrativa e não a história) um pouco fora do que já me acostumei a encontrar aqui no Sanidade. Espero que não fique chateado com essa declaração, pois vc pra mim continua sendo um poeta em potencial. Adoro o que escreve e como escreve. Bjs temerosos!

Rapha Vieira ou um dos seus alteregos disse...

Oi, Laly! Que bom que vc teve a coragem de fazer uma crítica! recebo poucas críticas aqui e penso que é mais porque são amigos que querem me incentivar a prosseguir que pela qualidade dos escritos... É bom saber que, quando um texto desagradar, vou ouvir opiniões sinceras. Realmente esse texto é diferente do que eu costumo a escrever e penso que eu não soube conduzi-lo da melhor forma. Mas como aqui é só o meu parque de diversões, eis que ele foi publicado. Na época, fiquei empolgado com a história, mas hoje vejo que ele não tem nada demais... Não sei o que tirar de construtivo da sua crítica, a não ser a lição da humildade. Obrigado pelos elogios à mim (sei que são sinceros...). Em resumo, eu aqui pequenininho tentando melhorar, enfim! Muito obrigado e beijos!