sábado, dezembro 01, 2012

FATAL

Já era noite quando ele acordou. Tinha em suas mãos o sangue da noite anterior. Lavou-se na pia, tingindo o branco da louça de uma cor rubra enegrecida. Não usou sabão, contudo. Queria tirar a cor, mas não o cheiro que, infelizmente, também se foi com a água.

Foi andar pelas ruas, à procura da próxima vítima. Tinha planos de deixar uma mensagem para a polícia. Seria um código, uma brincadeira. Das últimas seis vezes, tinha conseguido seu intento. Esta seria a última.

Numa esquina encontrou uma jovem que voltava bêbada para casa. Ela falava sozinha e chorava com um imenso pesar. Estava um verdadeiro traste humano.

Ele, muito mais forte que ela, agarrou-a pelas costas, tapando-lhe a boca. Arrastou-a para um lote vago escuro e cheio de mato. Lá jogou-a com violência no chão e sacou o punhal, pronto para lhe cortar a garganta.

Ela, por sua vez, olhou-o com uma certa satisfação e disse:

- Você é um anjo que me foi enviado! Ah, ouviram minhas preces! Acabe logo comigo! Dê-me esse presente! Termine com esse martírio meu que chamam de vida!

Ele ouvia cada palavra, emudecido. Olhou-a nos olhos e viu toda a verdade que se podia esperar encontrar no mundo. Largou o punhal e virou as costas. Foi andando lentamente para a casa. Nunca mais saiu de lá.