sábado, outubro 06, 2007

CLARIDADE DE LUZ DE VELA

A dor a gente escolhe. É estranho pensar, mas é assim, dizem alguns orientais. Acho que eles podem star certos. Pode ser possível quando penso que a vela gera a luz, mas a gente se prende à dor do preço pago pelo pavio queimado, pela parafina consumida, pouco a pouco, até se extinguir e deixar de iluminar. O preço que é pago pela luz que a gente vê... Tudo se desgasta. E depois se renova. A natureza, já sabia Lavoisier, não está satisfeita com o estático e muda tudo de forma...
Não é que eu não tenha pago minha parcela, por ver a luz. Poucos viram as lágrimas que correram em meu rosto no dia e agora, enquanto escrevo... Deixe que elas sejam só minhas.
Para os outros, pode ficar parecendo outra coisa. Mas deixe pensarem o que quiser. Eu não estou nem aí! O que vale é o que há por dentro...
Tudo são escolhas e fiz a minha. Eu nem quis olhar qual foi o preço. Apenas preferi recordar dos momentos de luz que ficaram. E como foram muitos e intensos...
Me lembro da voz cantando canções que não conheço, que não são do meu tempo. Lembro-me do chá de erva cidreira, do angu com leite e açucar, da comida cheirosa... Lembro-me do terço nas mãos e um livro com muitas orações. Lembro-me que aprendi o que significava "cabelos grisalhos"... Das risadas gostosas e inesperadas, das histórias de tempos e terras distantes. De uma máquina de costura, agulha e linha. Da caneca de metal. Das fotografias antigas que se revelavam em histórias que eu tinha saudade de não ter vivido. Dos olhos verdes, que eu olhava de perto tentando entender porque se alegravam tanto ao me verem. Da teimosia, da memória invejável, do bom coração e dos defeitos que eu aprendi a gostar. De pernas que eu fazia ginástica e da mão que segurei, carinhosamente, sobre as minhas, pedindo calma e sentindo as dobras da pele. Sem saber que seria, aquela, a última vez.
Você me disse muito obrigado pelo que eu fiz, e eu não entendi por que. Eu disse que você já estava bem e que estávamos da mesma maneira, quando eu ainda era pequeno e massageava os seus pés. Acho que, na verdade, dissemos: "Eu te amo!". E pra mim foi o que ficou.
Eu nem quis te ver, por entre as flores. Bobagem. Sinto que não faria nada diferente e que tudo foi feito. E sei que, agora, a luz é leve e paira próxima de mim, ainda que eu não possa vê-la, guardada em algum lugar atrás da minha retina ou presente ao lado feito fumaça que não posso ver ou sentir, mas posso saber de sua sombra angelical.
Eu te amo, querida!

4 comentários:

Natália disse...

Lindo, lindo, lindo....
E viva à boa lembrança, à oportunidade de ter luz em nossas vidas, ao início de uma nova etapa de crescimento, à certeza de que o futuro é INFINITO e, acima de tudo, ao conforto de que os laços de AMOR são ETERNOS.

Abração!

Anônimo disse...

Raphael,
Esteja certo que meu coração está contigo neste momento e peço a Deus para te dar paz e conforto. Sofro junto, como não poderia deixar de ser.
Abraço forte e carinhoso,
Miguel

Luanda Perséfony disse...

o texto só não é mais bonito que uma luzinha quente que iluminou a muitos e que você soube sempre aproveitar e amar. E que, mesmo sem vermos, continua iluminado...

É Rapha,
a saudade é grande...
as mudanças doem...
as lembranças nos alegram...
o amor (como dito pela Natalia)é eterno...
e agora, mais que nunca, o tempo se faz amigo...

força mocinho!!!

não esqueça que os amigos estão aqui com você...

bjocas

Rapha Vieira ou um dos seus alteregos disse...

Nat, não poderia ter comentado melhor... É tudo que sinto... Obrigadoi por tudo que fez por mim... Um grande abraço pra vc!
Miguel, valeu.
Lu, agradecer seria suficiente? Obrigado por estar aqui comigo! E chega que vou chorar... Bjão!