segunda-feira, maio 01, 2006

UM OUTRO DIA...


Ela estava andando pela rua com sua saia de menina simples, graciosamente, como só ela sabia ser nestes tempos malucos de hoje em dia. No seu rosto de moçinha que já era, podia se ver a luz pálida de uma pele que já foi mais morena do que é agora. Tinha um nome, mas já não se lembrava dele. Há tempos não ouvia alguém chamando-a. Em suas mãos, havia um ramo de flores roubado de um jardim próximo e a chave do seu portão. O vento balançava seus cabelos e suas roupas, como num balé surreal, enquanto ela livrava sua visão das madeixas esvoaçantes com uma de suas mãos que estava semilivre. As suas roupas e as árvores nas calçadas enchiam de cor aquele dia cinzento e um pouco frio, porém de uma beleza ímpar.
Naquela manhã, ela acordou bem cedo preparou um bolo com o resto de farinha que havia, fez o café, abriu as janelas de casa e decidiu sair. Há muito não o fazia, mas agora simplesmente precisava da viada que existe lá fora. Não podia demorar muito, mas queria apenas uns instantes à luz minguada daquela manhã. Poder sentir o ar rodear seu corpo por baixo dos panos que a cobriam, como carícias de alguém que a amava em segredo. Enquanto caminhava, deixou escapar um leve sorriso que bailava entre uma alegria infantil e uma leve e doce melancolia.
Parou em frente ao portão de metal pesado e escuro. Com a chave que levava em sua mão, abriu devagar o cadeado e logo depois o portão que fez um barulho forte e seco de ferrugem. Fechou-o com cuidado e entrou em casa pela cozinha. Encheu um copo que estava no armário de água e colocou o ramo de flores dentro. Caminhou em direção ao quarto e deixou em cima do criado mudo.
Olhou com carinho sua avó deitada na cama ao lado. Ajoelhou-se ao seu lado e beijou-lhe a testa devegar, como se o beijo tivesse que ser eterno. Mas ela já não conseguia resposder ao carinho, se é que ainda o percebia. A pele marcada pelo tempo e a expressão cansada nem fazia lembrar que em outros tempos aquela velinha viveu tempos difíceis, mas mais felizes. No quarto simples, ouvia-se apenas a respiração difícil daquela senhora. Depois da doença, a penumbra daquele quarto se fez tão mais sombria... A menina se levantou e olhou de perto o calendário e viu que ainda faltavam quatro dias até que chegasse o dia de receber o dinheiro da pensão, que era a única renda das duas.
Após um tempo parada olhando para o calendário como que sem acreditar, a menina saiu do quarto silenciosamente e foi até os fundos da casa pegar umas ervas para fazer uma infusão. Depois de escolher as folhas boas com cuidado, levantou-se e dançou livre, como se ouvisse uma orquestra, com os olhos úmidos.
Quem é esta menina? Você sabe quem é... Creio que você nunca se esqueceu da pureza em seu olhar. Não há como alguém não se lembrar dela. Ela sempre marcou muito as pessoas com sua força que vinha de não sei onde. Com sua fragilidade que a fazia tão forte, resistindo aos ventos fortes que sopravam e sopravam. Ela era uma conhecida nossa: a vontade de viver, que não se deixa abalar pelos vendavais porque sabe que amanhã sempre será um outro dia...

3 comentários:

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