segunda-feira, setembro 10, 2007

UM NOVO VELHO OLHAR

Abri a janela do meu apartamento e observei a vista mais uma vez. Depois de um tempo, a vista de um apartamento não significa mais nada pra gente. Acaba-se a graça. No máximo, dois meses. Depois, ninguém quer nem abrir a janela...
Lembro-me de quando comprei meu lar e a vista era a coisa mais importante pra mim: eu olhei aquela imensidão de um mar de prédios ao redor, o cinza da cidade, rasgado pelo céu que insistia em aparecer, acima de tudo...
Os prédios sempre me pareciam flores, que creciam no meio da cidade, como um lindo e imponente jardim. Como eu enxergava vida neles! Sentia que eles compartilhavam comigo o desejo de tocar o céu com a ponta do nariz... Eles eram como faróis, que alegram o navegante quando este vê suas luzes, ao longe... Faziam-me sentir cada vez mais perto de casa, quando eu os via surgir da janela do carro, após ultrapassar os muros de onde trabalho. Eles sempre me faziam pensar que a cidade ficava mais perto dos anjos, e que estes deveriam voar por entre os prédios, encantados com suas luzes que se acendiam e apagavam num balé não sincronizado, porém harmônico.
Depois, a grande magia da vista passou. A gente vai vivendo e muita coisa vai perdendo o tempero... A gente passa a ter menos poesia nos olhos... A vista, meus irmãos, é como a beleza: se está sozinha, cansa. Nossos olhos logo se saciam e querem algo mais depois... Lembrei-me de tantas vistas que passaram diante dos meus olhos... E de tudo aquilo que se tornou eterno e que parece que aconteceu ontem. Um gosto, um sonho, uma promessa, uma canção, um quase fugir, que eu não consegui...
E, repente, sem nem porque, hoje surpreendo-me abrindo a janela, observando essa vista. O que fiz foi apenas chegar mais próximo que pude da janela e deixar soar o grito mais honesto que poderia sair de mim, naquele momento:
- Bom dia, minha linda cidade!

3 comentários:

Luanda Perséfony disse...

entre tudo que foi dito e vivido, só reforço uma coisa que já foi cantada...

"Aconteça o que acontecer
Tudo é o que parece ser
Nada ficará de nossa paisagem
Marte nos fará seguir
Vênus sempre há de existir"

Rapha, agora sim vc deve ficar um tempão tentando decifrar meu comentário... tentar 3, 4 ou 5 interpretações diferentes... se bem que este ciclo sempre termina (ou seria começa) no mesmo em que a música foi, pela primeira vez, cantada!!!!

o que isto tem haver com o post??? talvez a histórinha de apartamento tenha me remetido a esperar 30 dias para rasgar alguns papeis rsrsrsrs

bjocas

FRANZ disse...

as vezes tbm tenho a inpressao de trocar de olhos

Rapha Vieira ou um dos seus alteregos disse...

Lu, quanta coisa se encaixa, não é? Músicas já existem antes da gente viver as situações ou somos espionados e fazem as músicas com a vida da gente.... Se for pra esperar 30 dias, vamos rápido q eu sou impaciente... rasgar papéis? adoooooooro! Bjão!
Franz, troque os olhos sempre... É uma experiência enriquecedora! Abraços!