sábado, março 01, 2008

FOTO DA GAVETA

Eu estava mexendo na minha gaveta, ontem, e achei um retrato nosso, daquelas férias que passamos na casa de sua irmã no Amapá. Faz tanto tempo...
Não me contive e soltei uma gargalhada. Confesso, que me senti confusa ao ver sua expressão naquela foto, entre pateta e apaixonado.
Olhando bem para essa fotografia, nem reconhecia mais a gente... Parece que foram outras pessoas que tiraram aquela foto. Definitivamente, a gente não podia estar ali naquela foto. Devia ser montagem. Era o que eu queria acreditar. Mas, para o meu espanto, éramos nós, mesmo.
É engraçado eu ver o quanto o tempo mudou nossas vidas. Ainda me lembro que você falava empolgado sobre o serviço, trazia uma flor roubada de jardim para mim, fazia uma canção improvisada para nossa filha...
Você era um bom pai. E eu sei que implicava com sua barba. Mas achava o máximo. Você ficava realmente muito lindo de barba.
Sei lá, tudo agora é tão distante... Eu era feliz. Eu tinha tudo o que uma mulher poderia querer: atenção, carinho, respeito. Isso é o essencial. De que mais é preciso para se fazer uma mulher feliz?
E agora... Ah, a vida caprichou com a gente. Você escolheu jogar tudo fora, como se nossa vida fosse um buquê que secou com o tempo e não restasse mais nada a fazer. Você preferiu ser egoísta e pensar só em você.
Uma pena. Confesso que pensei isso: uma pena.
Já tive raiva, já chorei por isso, já me senti boba e tudo mais. Hoje, eu só acho que você podia ter pensado um pouco em quem gosta de você.
Eu sei que foi um misto de sentimentos o que eu senti. Até uma leve adimiração, pela sua coragem. Admito que em seu lugar, não teria tanta coragem para escolher sair daquela vida que te fazia infeliz. Eu teria vivido minha vidinha da mesma maneira, até um dia em que eu me perguntaria: "Por quê?" E pensaria em seguida: "Agora já foi..."
Tirar a própria vida é um pouco de coragem, egoísmo e loucura. Que, graças a Deus, eu não tenho o suficiente.
Mas fica a saudade, ainda. Quando, sem querer, eu vejo uma fotografia tua.

4 comentários:

Luanda Perséfony disse...

manter a vida, e não a foto, na gaveta é uma maneira covarde de se ter coragem, uma coragem covarde que vai contando os segundos....

um misto de sentimetos me invadem

amor, medo e inveja

uma silenciosa lágrima,
sorrisos,
uma sonora gargalhada


BELO TEXTO!!!

Rapha Vieira ou um dos seus alteregos disse...

Lu, que frases fortes essas do seu comentário! Fiquei viajando nelas um tempão... Obrigado e bjão!

Renato Carvalho ® disse...

se tivesse mais dois paragrafos eu chorava...
depois me estrague a fantasia e me diga de onde tirou inspiração...
e a proposito, fotos que me fariam o mesmo estão no porão, pra alguns parece longe, mas não sabem o quanto gosto e o afeto dos momentos de fuga naquele belo lugar...

Rapha Vieira ou um dos seus alteregos disse...

Renato, ainda bem que você não chorou. Ou que pena. depende do que você quer... Mas guarde suas fotos com carinho porque eu sei o quanto uma foto amada vale... Sobre estragar a fantasia, a inspiração foram na verdade dois fatos: uma é a foto de uma amiga que se suicidou... Uma foto que eu não tenho mais, pois dei de presente para o ex-namorado dela ficar mais reconfortado na época. Daí, veio uma conversa parecida com esse texto.
Outra inspiração foi a história do casamento da mãe de um amigo meu, cujo pai se suicidou... enfim, acho que misturei tudo e saiu... trágico, não é? tentei ver beleza nessa tristeza... enfim... Chega de estragar a fantasia. abraços!