quarta-feira, dezembro 30, 2009
domingo, dezembro 27, 2009
REQUIEM
MALDITA INSPIRAÇÃO QUE ME SALVOU
quinta-feira, dezembro 24, 2009
CORAÇÃO DE NATAL
quinta-feira, dezembro 17, 2009
segunda-feira, dezembro 14, 2009
O FUTURO OÁSIS
sábado, dezembro 05, 2009
quinta-feira, dezembro 03, 2009
DO LADO DE DENTRO
OLHAR BEIJA-FLOR
UM MEDO
BARBA DE NÁUFRAGO
Ele nasceu sozinho, a mãe não queria...
Ele deixou os amigos que o machucavam.
Acordava sozinho, almoçava sozinho,
dormia sozinho, morria sozinho.
Vivia em sua ilha de osso
cercada de carne por todos os lados.
E se feriu no próprio escudo,
numa manhã.
Morreu sufocado, pela tarde.
E queimou-se radiante na noite.
MEU AMIGO E MEU RIVAL
SUA PRETENSÃO
sábado, novembro 14, 2009
CHAMINÉS
sábado, novembro 07, 2009
MISERE NOBIS
É, meu velho, é difícil deixar o vício.
Ainda mais vencer o hábito do punho fechado.
Você tem sorte do meu veneno ser ralo,
de eu ser um velho galo de briga cansado,
e de eu não querer me matar com meu próprio ódio.
A minha sorte é ter o peso dos anos,
as marcas frescas das brigas
e o reforço astuto do saber as consequências.
domingo, novembro 01, 2009
AGUÇANDO O FARO
O PREÇO
Ela era uma prostituta. E sem pudor. Dizia: "Sou e é é isso!". Fazia 12 anos que ganhava a vida assim. Vida fácil? Não. Mas seguia em frente.
Até que conheceu Roberto. Conheceu-o na cama, como os outros. E, como os outros, realizou suas fantasias. E, como os outros, olhou dentro dos olhos o tempo todo mas, ao fechar a porta, nem se lembrava mas do rosto dele.
Não foi o mesmo que aconteceu a Roberto. Ele ficou com ela na cabeça toda a semana. E voltou lá na semana seguinte. Falou que não conseguiu esquecê-la. Ela riu. Ele completou:
- Você não acredita, né? Mas você mexeu com minha cabeça... Vem cá!
Roberto ainda não sabia, mas ela realmente estava mexendo muito com sua cabeça. Tanto que ele voltou lá três dias depois, no mesmo horário, às 18:00h. E, na sequência, passou a ir encontrá-la quase todos os dias após sair do trabalho.
No início ela se gabou: "Consegui conquistar o cliente...". Mas depois começou a ficar assustada com o aumento da frequência daquele freguês. "Acho que ele se empolgou demais...".
Um mês depois, Roberto fez a proposta:
- Casamento? Me tirar dessa vida? Quem você pensa que é? E com quem você pensa que está falando?
- Eu sei que você também gosta de mim. Sei pelo jeito que você me olha...
- Eu faço isso com todos. É só uma forma de levar os homens à loucura. E deixá-los satisfeitos, pensando que têm algum poder...
- Então vamos ver se eu não tenho razão... Você tem duas semanas pra pensar.
Quando ele saiu e fechou a porta ela riu e pensou: "Esse pirou de vez". Mas passou a noite pensando em tudo que ouvira. Pensando nele. No outro dia, ele também não saia de sua cabeça. Ficou ansiosa para chegar às seis da tarde. "Talvez Roberto tivesse razão e eu esteja apaixonada", começou a pensar. "Ah, nada disso! Eu? Apaixonada? Bobagem...". O riso que se seguiu foi entre o desprezo e o desespero.
Quando ele chegou, tratou-o com uma indiferença forçada. E tentou fazer como sempre fez. Porém, nos dias que se seguiram, pensava mais e mais nele. Um dia antes do término do prazo, falou com ele:
- Aceito o casamento, mas não quero deixar de ser o que sou.
- Por que? Você não vai precisar continuar a...
- Ou isso ou nada feito - disse cortanto o argumento dele.
- Tudo bem...
Casaram-se. Na lua-de-mel, ela disparou ante uma investida dele:
- Pode parar! Não faço sexo sem pagamento...
- Mas você é minha mulher...
- Meu amor é seu, mas o sexo só com pagamento...
Ele olhou-a sem acreditar... Riu desesperado, aguardando ela falar que era brincadeira. Mas ela apenas olhou-o séria.
Ele olhou-a nos olhos por um tempo e mudou de expressão: de surpreso a magoado. Balançou a cabeça em negativa, pegou a mala e saiu do quarto, batendo a porta. Ela ficou imóvel. Estava desfeito o casamento.
Nove meses depois, ela tinha acabado de chegar no velho quarto onde a história começou quando recebeu um recado: já havia um cliente esperando por ela.
Roberto entrou pela porta do velho quarto. Jogou um bolo de dinheiro nela e ordenou:
- Deita na cama!
Ela apenas cumpriu a ordem, calada. Após terminar, ele vestiu sua roupa e, sem dizer palavra, foi embora. Essa cena se repetiu, não de vez em quando, mas todos os dias.
sexta-feira, outubro 30, 2009
PEQUENA LIÇÃO
Com calma e tenência.
Ela sabe da cadência,
que é preciso ter
pra seguir em frente.
Obrigado pelo ensino,
minha amiga centopeia.
domingo, outubro 18, 2009
COTIDIANO
Quando viu um cachorro deitado na calçada de sua casa foi em sua direção. Aproximou-se dele, chutou a sua barriga e esbravejou:
- Saia daqui, seu pulguento maldito!!!
Foi trabalhar. Era Garçom num restaurante barato. Como de costume, antes de sair da cozinha cupiu no prato daquele freguês velho e chato que comia ali quase todo dia no mesmo horário. Talvez foi a melhor coisa que lhe aconteceu no dia...
Ao voltar pra casa, teve que ignorar mais uma vez o "boa noite" do motorista de ônibus, mas conseguiu uma pequena satisfação: ver o trupicão de uma menininha de 5 anos que subiu no ônibus de mãos dadas com a mãe.
Chegou em casa e ficou andando de um lado para o outro, de olho no relógio. Até que o telefone tocou. Atendeu apressado o telefone e foi logo dizendo:
- E aí?
-...
- Passou?
-...
- Parabéns! Então agora terei uma irmã médica?
- ...
- Eu imagino. Vestibular é um saco, mas você conseguiu. Agora vê se estuda, viu? Já contou pra todo mundo?
-...
-Então desliga e vai ligar!
-...
-Tchau.
Sentou no sofá, ligou o rádio, suspirou e deu um sorriso de canto de boca, batendo o pé ao ritmo da música calma que tocava...
OLHOS E DENTES
SINTÉTICO
quarta-feira, setembro 30, 2009
NIGÉRIO
sábado, setembro 19, 2009
(DES)GOSTO
domingo, setembro 13, 2009
DIGA ADEUS...
Frase que não devo escutar mais, porque a novela acabou e o trocadilho caiu de moda:
"Are barba!"
terça-feira, setembro 08, 2009
ANAGRÁVITO
sábado, agosto 29, 2009
SIRILUIA
quarta-feira, agosto 26, 2009
RUINAS URBANAS
O mendigo é engolido pela publicidade e pichachões.
A fumaça estampa o cinza nas marquizes.
O lixo fica ali mesmo, no chão.
Os semáforos negros se alinham com fios de alta tensão.
Os prédios abandonados e velhos ficam esquecidos.
Quando atravesso na faixa, noto uma pausa no barulho
como se fosse um minuto de silêncio por algo que ficou perdido.
sábado, agosto 15, 2009
NATURAL
É muito difícil de explicar do que se tratava, mas podemos dizer que ele tinha um meio sorriso muito cativante. Desde pequeno, ele fazia, sem perceber. E, depois de ver aquele meio sorriso estampado em seu rosto, não havia como ficar encantado por ele. Era como se aquele sorriso fosse capaz de render a quem quer que seja e, então, a pessoa ficava como que magnetizada.
Algumas vezes, as pessoas mais inflexíveis que ele conhecia mudaram de opinião quando ele, sem querer, soltou um desses sorrisos, enquanto insistia por outra resposta...
Até que, já com seus 28 anos, numa conversa com sua namorada enquanto estavam vendo um álbum de fotos, ele perguntou:
- Meu benzinho, eu nunca fui alguém bonito. Como você começou a gostar de mim?
- Ah, acho que foi quando eu olhei o seu sorriso tímido... Eu não sei explicar, mas é um meio sorriso que te faz irresistível.
-Sorriso tímido?
- É um igual a este que está nessa foto...
Não deu muita importancia para aquela conversa. Mas, algum tempo depois, numa conversa com a mãe sobre amenidades, tocou nesse assunto despretenciosamente. Sua mãe então lhe disse:
- Ah, deve ser isso mesmo com certeza! Você tem um sorriso que dá um nó no coração da gente...
Com o passar do tempo, sempre que o assunto era o seu sorriso, ouvia respostas semelhantes. Aquilo começou a lhe chamar a atenção. Estava intrigado com o poder que as pessoas afirmavam que aquele sorriso lhe conferia.
Começou a pensar que fazia aquilo de forma não intencional, mas se conseguisse controlar aquele poder, teria uma arma muito poderosa sobre as pessoas.
Então resolveu que treinaria em frente ao espelho o meio sorriso daquela foto que sua namorada lhe mostrou, imitando a própria face naquela fotografia.
Ficou dias e dias nessa tentativa, sempre testando os resultados obtidos em situações da vida cotidiana, mas sem comentar seu intuito com ninguém, claro. Não conseguiu, porém alcançar nenhum resultado. Até que, no dia de seu aniversário, enquanto o primo tirou uma foto sua, conseguiu imitar perfeitamente o sorriso. Ao ver a foto, pensou vitorioso que conseguira o intento.
Começou a usar do sorriso a torto e direito, mas não percebia o efeito que as pessoas relatavam sobre o seu sorriso. Pensava que algo havia de errado: estava imitando-o perfeitamente, mas não obteve o poder irresistível esperado!
Até que, alguns meses depois, sua namorada pediu para romper o namoro. Ele, sem acreditar, perguntou:
- Mas o que aconteceu?
- Não sei... Acabou o encanto...
- Mas você não gosta mais de mim? Nem do meu sorriso?
- Ah... Sei lá! Parece que algo está diferente... Não consigo ver a mesma luz que eu via nas coisas, no seu sorriso, em você... Acho que é comigo... Adeus!
Sem entender direito o que estava acontecendo, apenas seguiu o impulso de cair no sofá e chorar. Chorar como um menino. Ligou a televisão para que ninguém escutasse seu choro. Ironicamente, passava uma entrevista sobre pintura, onde um especialista afirmava:
- É claro que este quadro é uma falsificação. Ele não chega nem aos pés da luz do original. Apesar da aparente perfeição, falta-lhe naturalidade...
A frase ecoou em sua cabeça por muitos minutos até que, meio tonto, adormeceu.
terça-feira, julho 28, 2009
O DIA DAS DEVAS
quarta-feira, julho 15, 2009
A VELHA FEITA DE ALECRIM
E, eu acho que ela já nasceu com o cabelo grisalho...
O que ela mais gostava era de debulhar e comer romã.
Ou não.
Talvez gostasse mesmo de se perfumar, passar batom e se enfeitar.
Qualquer coisa, falava pra gente ir correndo a uma benzedeira.
Ela cantava músicas que ninguém lembra mais.
Pelo menos uma vez por ano ela defumava a casa com ramos diversos como arruda e alecrim.
Todo dia ela rezava, de manhã e de noite.
Ela picava couve como ninguém.
Se lembrava de tanta coisa e falava de um mundo mágico.
As mãos tremiam tanto...
Sua voz era tão calma e branda.
Seu sorriso era dos mais livres.
Tinha uma tesoura velha de baixo da cama: uma das suas simpatias...
Sua costura era motivo de orgulho.
Ela tinha um cheiro misto de café, erva-cidreira, arruda e alecrim.
E alecrim era a flor do campo que nasceu sem ser semeada...
terça-feira, julho 07, 2009
segunda-feira, junho 29, 2009
SOBRINHO E TIA
- Você está fazendo a quinta séria pela segunda vez?
terça-feira, junho 16, 2009
segunda-feira, junho 08, 2009
LIGANDO DOIS LADOS
Todo dia, ele acelerava o ritmo da caminhada para passar pela ponte e depois voltava à cadência anterior de seus passos.
Um dia, esperei que ele atravessasse a ponte e perguntei:
- Você tem medo de cair da ponte?
- Eu não! Disse-me convícto.
- Então porque você corre para atravessá-la?
- Por que eu não quero ser igual ao vizinho...
- E seu vizinho acaso se demora quando passa sobre a ponte?
- Não é isso! É que não quero abusar da pobre ponte. Então passo o mais rápido que posso, para ela aguentar meu peso o menor tempo possível...
- E por que isso o faz diferente de seu vizinho?
- Como não seria assim! Pois minha mãe diz que ele incomoda muito a vida de todos. Ela diz que, para chegar aonde quer, ele não se importa de abusar dos outros e passar por cima! Se eu tiver que fazer isso, que incomede o menos possível, não é verdade?
Foi aí que me calei, pensando no meu julgamento precipitado e no que o menino me ensinou...
sábado, junho 06, 2009
PRA QUÊ PALAVRAS?
quarta-feira, junho 03, 2009
FALANDO SÉRIO
DESCERRAR O VÉU
terça-feira, junho 02, 2009
300
Trezentas vezes eu disse...
Trezentas vezes te ouvi dizer...
Trezentos suspiros meu espírito exalou...
Trezentos pássaros liláses pousaram em meu ombro, pela manhã.
Passeei por trezentas nuvens carregado por trezentas borboletas, como se eu fosse um girassol de trezentas pétalas...
Trezentas imagens valem mais que trezentas mil palavras... Ou não...
Trezentos segredos eu te contei, ao pé do ouvido, publicamente, pra todo mundo ver.
Inventei trezentas mentiras que viraram verdades...
Confessei trezentas verdades que viraram mentiras...
Trezentos ataques que vieram de repente me fizeram perder o juizo em meio à multidão que talvez nem me via...
E o amanhã, eu creio, virá!